domingo, novembro 26, 2006

a propósito dum comunicado da CMO

.
O comunicado da CMO que aqui reproduzo apareceu na minha caixa de correio em 20 de Novembro último. Desconheço a extensão geográfica da sua distribuição. Sei que foi distribuído no meu prédio. Por aludir à Qta. do Marquês, presumo que tenha sido distribuído em toda esta.

Que a forma como os munícipes se relacionam com os lixos que produzem é um drama, não subsistem dúvidas.
Que é importante alertar e sensibilizar regularmente os munícipes para o tratamento mais adequado a dar aos lixos domésticos e a melhor forma de utilizar os canais disponíveis para escoamento e tratamento desses mesmos lixos e resíduos, também não merece reparo.
Que a edilidade é a entidade mais competente e melhor colocada, até pelos meios de que dispõe, para o fazer, também parece óbvio. Além da evidente responsabilidade da mesma em o fazer.
Que existem ainda imensas pessoas que por irresponsabilidade, falta de sentido cívico e de consciência ecológica, puro desleixo e deseducação ou simples ignorância, se estão 'nas tintas' para o assunto, também não constitui novidade e, mais ainda, não deixa de ser algo que neste espaço virtual, às vezes tão real, não tenhamos já abordado e assim vamos continuar a fazer.
No sentido exposto acima, o comunicado da CMO seria apenas isso. Um correcto e normal alerta para a realidade de certo problema e para a melhor forma de o resolver.

Contudo, o seu teor e linguagem não podem deixar de me incitar a tecer algumas considerações sobre uma certa irresponsabilidade do actual executivo, e da ineficaz tentativa deste de 'tapar o Sol com a peneira'...

Logo para começar, o comunicado refere-se a um determinado e específico ecoponto. Conheço-o e confirmo a veracidade do que é dito e da fotografia que o ilustra. Por diversas vezes passei por esse ecoponto e apercebi-me do acumular de sacos no chão à sua volta. Sacos com evidência de conterem lixos domésticos, detritos orgânicos. Detritos que o vento e os animais vadios espalham, conspurcando a zona. Nunca usei esse ecoponto porque tenho um mais perto da minha casa, mas conheço-o bem.

Agora a primeira questão que coloco é o facto da CMO, no seu comunicado, 'meter tudo no mesmo saco'. A Qta. do Marquês é muito vasta.
Para não estar a 'falar de cor' dei uma volta a pé pelo bairro com o objectivo de identificar os ecopontos que nele existem.
O resultado foi o seguinte:


Na imagem, obtida no Google Earth, apresento a localização aproximada de todos os Ecopontos e Papelões que encontrei. Admito que me possa ter escapado algum. As pernas já não são o que eram, a vista também não, e anoitece cedo.

O traço AMARELO representa, mais ou menos, os limites da Quinta do Marquês;
as setas VERMELHAS a localização dos Ecopontos;
as setas VERDES a localização dos Papelões.

Faço notar que os que se encontram nos limites também são utilizados pelos moradores dos bairros vizinhos.

Vamos fazer contas: Os prédios deste bairro têm todos cerca de 8 andares, com uma média de 3 fogos por andar. Isto representa 24 famílias por cada prédio. A 'olho' na imagem identificam-se cerca de 77 edifícios. Se fizermos as contas obtemos um total, provavelmente por defeito, de 1.848 famílias. Se cada uma for constituía por 3 pessoas, caso raro, teremos cerca de 5.544 pessoas a viver nesta área.
Segundo o "Guia Prático da Eficiência Energética" de Junho de 2006, da EDP, cada português produz em média 1,4 kg de resíduos domésticos por dia. Se agora multiplicarmos este valor pelo número de pessoas prováveis, obtemos o valor de: 7.761,6 kg. Quase 8 Toneladas diárias de resíduos domésticos, apenas nesta zona!

Será que 2 Ecopontos e 2 Papelões são suficientes para colocar aqueles resíduos que não vão com o lixo normal, nos contentores dos prédios?
Será que a recolha do lixo dos contentores dos prédios é mesmo eficaz?

Ao pôr tudo no mesmo saco, a CMO parece estar a dar a entender que toda a gente usa aquele ecoponto para lá ir colocar os sacos de lixo. O que até pode em parte ser verdade... Por diversas vezes vi da minha varanda pessoas de outras ruas virem colocar lixo ao lado dos contentores na minha rua. Não é inédito... Mas aquele ecoponto não é o único a servir toda a Qta. do Marquês.

Mas o que me choca mais no comunicado da CMO é a frase com que termina:
" Informe-nos sempre que detectar situações incorrectas ou
se identificar quem as provocou!"


A CMO quer que os munícipes sejam polícias uns dos outros!! Talvez esteja à espera que alguém monte um sistema de video-vigilância na varanda que registe os movimentos suspeitos nos ecopontos, e que identifique as pessoas que lá ponham sacos no chão...
Ou talvez espere que um munícipe se vá colocar de plantão das 0 às 24 todos os dias ao lado do ecoponto a guardá-lo (até talvez se pudessem constituir brigadas de moradores para este fim)... e que no caso de ver alguém pôr um saco de lixo ao lado do ecoponto, siga a pessoa até casa dela, para saber quem é e onde mora, e os informe de que o/a senhor/a X, morador/a na rua Y no andar Z, acabou naquele instante de colocar um saco plástico com a cor tal cheio de cascas de batata, um preservativo usado (com material para um exame pericial de ADN, que pode ajudar à identificação do prevaricador), quatro cascas de cebola, 5 pedaços duma pizza bolonhesa, uma pasta fedorenta e molengosa de cor esverdeada que talvez seja resto duma lasagna e restos de fígado, junto ao ecoponto da rua não-sei-quantos...

Pergunto ainda:
Será que a recolha de lixo é assim tão eficaz como a CMO nos quer fazer crer?
Será que os ecopontos são em número suficiente para a densidade habitacional deste bairro?
Quanto ao meu prédio nada tenho a dizer. Os poucos problemas que temos devem-se efectivamente a alguns moradores que não têm o cuidado de atar os sacos antes de os porem no contentor do prédio.
Mas será que todos os prédios estão devidamente equipados com casas do lixo? E com os contentores suficientes?
Será que há um trabalho de sensibilização nesses prédios para a melhor forma de gerir os lixos?
Só um exemplo: Quantas pessoas levam o saco para baixo para o pôr no contentor e deparando com este cheio, trazem o saco de novo para casa, para o levarem no dia seguinte, como eu faço?
A maioria ou põe no chão, ou vai colocar o saco na via pública, junto talvez dum ecoponto... suspeito até que haja quem leve o saco no carro para o largar num contentor qualquer pelo caminho...

Sugiro: Porque é que não se atribui à Polícia Municipal esta competência fiscalizadora e policial?

Acho que com este ridículo e ofensivo comunicado a CMO deu...
um tiro no pé!!


n.b.: Reparem que o número de telefone para o munícipe informar a CMO não é gratuito... Já não basta o que pagamos de contribuições e impostos...

CLIQUE NAS IMAGENS PARA AMPLIAR

5 comentários:

Isabel Magalhães disse...

Amigo J.A.

Em cheio. Assim mesmo é que é!

Chega de fazermos parte do grupo "consumidor come e cala"!

Por curiosidade, e depois de ler o teu esclente artigo, fui ver a última factura que recebi dos SMAS...

além do consumo da água há, a saber:

aluguer do contador;

tarifa de utilização (que não sei o que é);

resíduos sólidos;

resíduos sólidos fix.

Donde que o serviço de recolha do lixo é um serviço pago pelo munícipe.


Um beijinho.

Isabel Magalhães disse...

excelente....


:)

desculpa, estou quase a escrever às escuras.

Unknown disse...

Olá Isabel,

E não me estendi muito a respeito precisamente da recolha dos lixos domésticos, via contentores dos prédios, porque o mote dado pelo comunicado era um determinado ecoponto.
Porque sobre a recolha propriamente dita e as deficiências desta muito haveria a dizer...

bjs,

Isabel Magalhães disse...

Na minha freguesia - Linda-a-Velha - a recolha funciona 7 dias por semana, não havendo, por isso, nada a dizer.
Talvez apenas o facto de os camiões passarem tarde, pelas duas da manhã, e fazerem muito barulho. Não apenas o para arranca do motor, do rodado, e do chiar dos travões que muitas vezes estão mal afinados, mas tb o barulho das travas dos contentores e das rodas dos mesmos no asfalto, além do barulho dos funcionários que comunicam em altos 'berros' entre si, esquecidos da hora. Hora em que a maior parte das pessoas dorme... ou tenta dormir.


bjs.
I.

Unknown disse...

Estamos a falar da recolha doméstica.
Aqui o panorama é idêntico. Todos os dias, por volta dessas horas e com essa gritaria.
Apenas agravado por do lado do meu quarto não haver asfalto. O piso é em paralelepípedos e muito irregular, pelo que podes imaginar a 'choldra'...

bjs,