sábado, julho 03, 2004

os mortos

Ao jeito de intermezzo.
Ao longo destes 35 anos muitos são aqueles que nunca lerão as minhas memórias de Oeiras. Todos fazem parte delas, de uma forma ou de outra, por boas ou por más razões, ou por razões assim-assim. Todos pertencem a essa memória remota ou próxima. Vários conheci como amigos do meu irmão. Pertenciam à geração com menos meia dúzia de anos que eu. Outros, menos, pertenciam à minha geração. Acompanhei muitos em festas de 'garagem', que aconteciam em sótãos porque viviamos em prédios. Também alguns acompanhei a pubs e a discotecas, ou em mergulhos 'tudo nu' à meia-noite na praia da Torre.
Da maioria deles eu nem sabia o nome. E nisso era correspondido. Para eles eu era o 'irmão do Júlio', o que era mais que suficiente para me identificarem. É tão bom não necessitar de B.I.!
Todos eles estiveram aqui, ali ou acolá, num qualquer lugar, neste, naquele ou num qualquer dia outro. Todos riram, todos ficaram sérios, todos choraram, todos morreram. Fosse por acidente, suicídio ou doença, álcool ou droga, ou a explosiva mistura de tudo isso, a temível gadanha abateu-se sobre eles e cerceou-lhes o fio da vida. Uns mais cedo, ainda adolescentes, outros mais tarde, jovens adultos. Todos tinham o futuro à espera deles. Mas a única coisa que encontraram foi a frieza gelada do presente permanentemente feito passado, na iniludível transmutação em pó.
Para que saibais, quero deixar aqui registados alguns nomes que ainda lembro, deles e delas, sabendo que estou a esquecer vários outros (a ordem é meramente alfabética): Calita, Fufu, Guida, Ilídio, Quim, Litri, Marçal, Nuno, Cigano, Rafael, Rui, Teresa e Toninho.

Mors ultima ratio.

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