sexta-feira, março 24, 2006

De Alma e Coração



Exposição de Pintura.

30 de Março a 23 de Abril de 2006.
Terça a Sexta, das 13 h. às 18 h.
Sábados e Domingos das 12 h. às 19 h.
Encerra Sexta-feira Santa e Domingo de Páscoa.

Messe de Oficiais de Caxias - Rua 7 de Junho de 1759, Caxias.

domingo, março 19, 2006

Arte e Magia Transmontana


E no dia da inauguração, lá me meti ao caminho.
Ansioso com o que acreditava me esperava. Um regresso ao passado, retornar a Trás-os-Montes, respirar os ares que me acolheram há tantos anos, quando criança, percorrer de novo os caminhos das serras, sopesar os penedos, sentir o frio do ar límpido, o contacto gélido da neve, amortecidos pelas vibrantes, esfuziantes e quentes festanças populares.
Enfim, um retorno à infância.

Confesso que me desiludi.
Acho que o meu regresso à infância aconteceu sim, mas antes de eu lá chegar. Esperava talvez demais. Esperava ver muita gente interessada na exposição, a sala cheia, esperava ver caretos mascarados a pincharem e chocalharem pelo meio das pessoas, esperava ver uma efusão de gozo e alegria carnavalescas. Bem sei que o Carnaval já acabou. E que o que é demais chateia.
Ingenuidade a minha, que não esperava ver uma sala de reduzidas dimensões, com meia dúzia de obras pictóricas de artistas plásticos, umas quantas fotografias de outros artistas, um manequim vestido com a indumentária do careto, umas poucas máscaras, e uma televisão a transmitir discursos de inauguração da Casa do Careto.
Praticamente nada do que é a actividade festiva propriamente dita estava visível, excluindo as poucas fotografias. Pareceu-me uma exposição para quem já sabe do que se trata e não uma real divulgação para quem desconhece.
Admito que os organizadores não tenham condições técnicas e económicas para mais, e que se tenham esforçado bastante para fazer o melhor possível.

Mas é pena.
As nossas tradições merecem muito mais. Devem ser divulgadas com grande visibilidade, muito mais visibilidade, em particular junto de quem não as conhece. A começar por muitos portugueses que nunca saíram da capital.
Afinal tantas das nossas tradições remontam a épocas tão remotas e tiveram um papel tão importante na sedimentação da cultura portuguesa e da essência profunda do povo português!

Não deixo contudo de louvar o esforço efectuado pela Associação Grupo de Caretos de Podence e de RECOMENDAR uma visita à exposição. Afinal, a minha ingénua 'desilusão' não significa que não encontrem lá motivos de interesse e alguma coisa para aprender.
Mas não fiquem apenas por ela. Complementem-na com uma visita ao site oficial e, nas férias, porque não dar um passeio até Podence e visitar a Casa do Careto?

Recordo que a exposição está aberta até dia 7 de Abril, de Terça a Domingo, das 10 h. às 13 h. e 14 h. às 18 h.

p.s.: Lamento não poder apresentar-vos pelo menos uma fotografia da exposição, mas não fui autorizado a fotografar.

imagem: digitalização do autocolante disponibilizado ao público no local.

sábado, março 11, 2006

sabe o que são CARETOS?


NÃO SABE!? Pois tem aqui uma excelente oportunidade para ficar a saber e para conhecer uma das mais fascinantes tradições festivas portuguesas.

Exposição da ASSOCIAÇÃO GRUPO DE CARETOS DE PODENCE.
17 de Março - 7 de Abril.
Terça a Domingo.
10h. às 13h. e 14h. às 18h.
Galeria Municipal Palácio Ribamar.
Alameda Hermano Patrone, Algés.

Para saber mais sobre a Associação Grupo de Caretos de Podence vá a http://caretosdepodence.no.sapo.pt/
ou clique no título deste post.

quarta-feira, março 08, 2006

SABOR A MAR



Exposição de Pintura de Artur Vilhena

9 MAR - 1 ABR
seg-sex: 15 h.-19 h. / sab: 9 h.-13 h.

Biblioteca Operária Oeirense
R. Cândido dos Reis, 119 Oeiras

quarta-feira, janeiro 25, 2006

Bons Ventos !!!




Oeiras é sem dúvida um Concelho de tradição marítima. Ou não confinasse com o estuário do Tejo, onde o rio entra pelo mar dentro. E tantas vezes vice-versa, entra o mar pelo rio e pela terra dentro, com a violência de quem quer repôr as coisas como elas devem ser e estar. Coisas, como a orla costeira, que o homem insiste em alterar a seu bel-prazer, frequentemente sem o mínimo respeito pela lógica da Natureza.

Para aqueles que gostam do mar e o desejam, usufruindo dos inefáveis prazeres que este pode proporcionar, a Confiquatro (empresa direccionada para as actividades náuticas) apresenta um vasto conjunto de cursos e actividades e tem já online o Calendário de Formação para 2006.
Os interessados podem encontrá-lo aqui: http://www.confiquatro.pt/ ; ou cliquem no título deste post.

Bons Ventos !!!

quarta-feira, janeiro 18, 2006

o desabrigo...

É uma tristeza...

http://olharapoeiras.blogspot.com/2006/01/o-desabrigo.html

domingo, novembro 13, 2005

Oeiras evoca os 250 anos do Grande Terramoto


Já está online o site oficial, no qual podem ser obtidas informações variadas sobre o programa e os eventos a realizar no âmbito desta evocação. Recomenda-se uma visita a este site. Para tal, clique no título deste post.

quarta-feira, novembro 09, 2005

Paisagem Aprisionada


Exposição de FOTOGRAFIA de Rodrigo Bento d'Almeida.

Edifício 51, Fábrica da Pólvora de Barcarena.
Estrada das Fontainhas, Barcarena.
Terça a domingo das 14h. às 18h.
Patente até 11 de Dezembro.

Oeiras evoca os 250 anos do terramoto de 1755


informações: Câmara Municipal de Oeiras - DASC/DCT - Sector de Acção Cultural, tel: 21 440 85 52

quarta-feira, novembro 02, 2005

Carlos Santos Bueno


No meu post sobre a apresentação de "As Margens Vermelhas" faltou dizer quem é o autor. Ei-lo, segundo o convite da editora:

"Carlos Santos Bueno nasceu em 1966 em Lisboa. Foi seis vezes campeão nacional de remo entre 1981 e 1984, altura em que desistiu de estudar por motivos de saúde, tendo nascido na provação um gosto nunca antes experimentado pelas ciências humanas, a poesia e a filosofia. "As Margens Vermelhas" desenrolam-se entre o desconcerto de um mundo desfeito e a esperança de um engenho que se mantem intacto, sendo que são estas as verdadeiras margens da poesia."


Deixo também aqui um poema dum livro que o autor tem em preparação e cuja edição se espera aconteça em Março ou Abril de 2006:

O Soldado à Porta do Templo

Mestre, o soldado à porta do templo
Perguntou-me onde ia, e disse-lhe
Que vinha ao templo para pensar.
E ele perguntou-me “porquê?”
E eu respondi-lhe que a luz,
À hora em que o sol toca a última montanha,
Também põe os raios no gelo.
E assim as ideias sorriem como os raios do sol,
E os soldados novos que perguntam “porquê?”
E o soldado deixou-me passar.

Carlos Santos Bueno, 13/10/2005

sábado, outubro 29, 2005

as margens vermelhas


Hoje tive o grato prazer de ver concretizar-se algo que apoiei e incentivei por diversas vezes.
O meu amigo Carlos Bueno viu finalmente publicado o seu primeiro livro de poemas.

Conheci-o há já muitos anos atrás e o nosso comum interesse pela Filosofia causou uma imediata e forte empatia entre nós. De vez em quando dava-me a ler alguns dos seus poemas. E cedo tive a percepção de estar perante um Poeta com maiúscula. Muitas vezes lhe disse isso e o aconselhei a procurar apoios para uma edição da sua obra, para que a nossa Cultura não ficasse privada de tão sublime escrita e peculiar visão do mundo.
É pela mão da Editorial Minerva que a obra está agora à disposição de quem a quiser ler e apreciar, o que aconselho vivamente.
Para o Carlos os meus votos de felicidade, boa sorte e... muita poesia!

p.s.: nunca nos entenderemos a respeito do Kant...

terça-feira, outubro 18, 2005

4 INTERVENÇÕES - escultura ao ar livre


Para já, não tenho mais informação acerca deste evento, mas fica aqui aquilo de que disponho:

4 Intervenções No Jardim Municipal de Oeiras.

Escultura ao ar livre.

Leonor Pêgo, Pedro Pires, Raquel Melo e Sérgio Reis.

23 de OUT a 22 NOV, 8-20 h., todos os dias, junto à C.P. de Oeiras.

segunda-feira, outubro 10, 2005

sexta-feira, outubro 07, 2005

a manobra de diversão dum chefe em Oeiras


Tenho pensado muito nos últimos tempos na estranha aparição da mirabolante candidatura de Isaltino Morais à presidência da Câmara Municipal de Oeiras. E pus-me a pensar porque carga de água Isaltino quereria voltar para a Câmara.
Ora vejamos, se ele está sob investigação por suspeita de fraudes no lugar de presidente que ocupou, é óbvio que voltando a ocupá-lo, ficaria sob um verdadeiro manto de suspeição e policiamento de todos os seus gestos. Nem um traque poderia dar, que não aparecesse logo alguém da oposição a cheirar se ele estaria a roubar alguma coisa...! A única coisa que lhe restaria fazer seria trabalhar MESMO. Ora esta não me parece ser a sua maior vocação.
Naaaaaão... a resposta tem que ser outra.

Imaginei as possibilidades, se a Teresa Zambujo concorresse sozinha.
Sozinha com a imagem que tem junto dos munícipes; sozinha com a obra 'visível', que encha o olho, que não fez; sozinha com a obra positiva 'invisível', que ninguém vê, que fez; sozinha com a opinião negativa que a generalidade dos munícipes têm demonstrado a seu respeito; sozinha contra o ambicioso PS.
Não é difícil imaginar que o PS ficaria com as portas da Câmara escancaradas. Bastar-lhe-ia, o que talvez fosse difícil, concordo, apresentar um candidato credível, boas ideias, um discurso convincente. A Teresa Zambujo restar-lhe-ia apostar no discurso vago, que tem andado a fazer, e ter a esperança de que o PS não tivesse candidato à altura.
Mas o risco do PSD perder a Câmara de Oeiras era grande, demasiado GRANDE.
E o Marques Mendes pode ser pequenino de tamanho, mas não é estúpido. Só havia uma forma de garantir a vitória 'absoluta' do PSD na Câmara de Oeiras. Arranjar uma forma de conduzir os eleitores a uma votação maciça na candidata Teresa Zambujo.
E a forma que, acredito, os três (Marques Mendes, Teresa Zambujo e Isaltino Morais) cozinharam foi na verdade muito simples. Aliás, é com coisas simples que se enganam os simplórios: Atirar com uma candidatura do Isaltino para a molhada (disfarçar a tramóia com umas quantas peripécias e malabarismos que todos conhecem) e subrepticiamente instilar no espírto das pessoas que existia um perigo real de Isaltino ganhar as eleições e voltar à presidência da Câmara, para continuar a 'meter no bolso' o dinheiro dos contribuintes.
Esta jogada bestial fez o seu efeito e começou-se a sentir nas pessoas o medo de que acontecesse mesmo. Começou-se a espalhar a ideia de que a única forma de evitar a vitória do Isaltino era garantir a vitória da Teresa, através duma votação maciça nesta. Votos que teriam que vir de todo o lado, claro. Daí o brilhantismo do golpe. O medo atingiu tal proporção que ouvi eleitores tradicionais do PS, do BE e até do irredutível PCP dizerem que iam votar Teresa (só para a Câmara...) tal o medo que tinham que o Isaltino ganhasse!

A jogatina continua: Ainda há pouco o Jornal da Noite da SIC afirmava que as sondagens, ou projecções ou lá o que é, apontam para uma vitória de Isaltino Morais em Oeiras. A VER VAMOS...

josé antónio


Foto: © josé antónio 2005.

sábado, outubro 01, 2005

a certa infinitude



Um dos problemas no meu prédio era o assédio quase diário dos moços e moças da publicidade, o dia todo a tocarem às campainhas para lhes abrirem a porta, para além do habitual, e mais ou menos regular, carteiro. Já referi aqui um caso (muitos outros terão acontecido) em que alguém se fez passar pelo carteiro para lhe franquearem a porta...
As caixas de correio eram das antigas e instaladas no interior do hall de entrada.
O facto de serem antigas e colocarem este problema da porta, não temos video-vigilância e isso coloca problemas de segurança, levou-nos a vários debates em assembleias de condóminos no sentido de as substituirmos pelo modelo actual, moderno, recomendado pelos CTT, com abertura para o exterior do prédio. Decisão que acabámos por tomar.
Estas novas caixas têm algumas vantagens: a abertura é no exterior pelo que não é necessário entrar no prédio para nelas colocar a correspondência e são também maiores, o que é muito útil para quem recebe revistas ou livros, como cá em casa. Tenho diversos exemplares da Revista Portuguesa de Filosofia, uns calhamaços de cerca de 600 páginas, com as lombadas todas estuporadas da força que o carteiro fazia para as meter, até meio..., na caixa (isto sabendo eles que em tais casos devem tocar à campainha para entregar em mão, o prédio até tem elevador; ou deixar aviso; algumas fui levantar à estação de correios, apesar de eu estar em casa à hora a que o carteiro deixava os avisos..)

Mas não são só estas as vantagens. A grande vantagem é de facto a desnecessidade de entrar no prédio, logo de ter de tocar à campainha para alguém abrir a porta.
Ora no meu prédio, e também por diversas vezes referimos isso nas reuniões, há pessoas que têm o péssimo hábito de, quando lhes tocam à campainha, destrancar a porta da rua sem sequer perguntarem "quem é?", o que tem como consequência que toda a gente pode entrar à vontade, seja para pôr publicidade, seja para andar a pedir às portas, seja para divulgar serviços, seja para 'estudar' o prédio, seja para o que for. Quantas vezes atendi à porta e após ouvir que era 'publicidade', e responder que não abria, ao mesmo tempo ouvia o barulho do intercomunicador a ser mexido e o som do trinco indicando que alguém, cuja voz não se ouvira, tinha aberto a porta.

Há pouco tempo a obra foi finalmente executada e as caixas substituídas. O acesso a elas é agora feito pelo exterior do prédio, pelo que não há necessidade de tocar às campainhas. Este tipo de caixas, aliás, não tem ranhura pelo lado interior pelo que nada se pode lá meter, a não ser mesmo pelo exterior. Assim sendo, não há qualquer razão lógica para abrir a porta. Dita o mais puro bom-senso que tal não seja feito, não é?
Por isso, pensei que se fosse generalizando o hábito de não tocar para abrir a porta, à medida que carteiros e distribuidores de publicidade e propaganda fossem aprendendo e apreendendo a nova realidade.
De facto, tenho notado que tocam menos à porta. Agora quanto ao resto...

30 SET 2005.
Eram umas 17:35 quando soou a campainha da minha porta. Pelo timbre percebi que era a da entrada do prédio.
Dirigi-me à porta, levantei o intercomunicador, quem será a esta hora?
— Quem é?
— Fá favô, publicidadji tele-pizza — respondeu-me uma voz de rapaz, com sotaque.
— Desculpe, as caixas são lá atrás, com licença — esclareci enquanto me preparava para repôr o intercomunicador no suporte. Ainda tive tempo para ouvir o som característico do trinco da fechadura a estalar. Alguém tinha aberto a porta...


"Só 2 coisas são infinitas: o Universo e a estupidez humana. E eu não estou certo do primeiro..." Albert Einstein

sexta-feira, setembro 30, 2005

quinta-feira, setembro 29, 2005

domingo, setembro 25, 2005

estive lá




e na feira quinta lá fui ver o Bernardo Sassetti Trio no auditório Eunice Muñoz.

adorei: a qualidade irrepreensível dos músicos um espectáculo memorável.
confirmei: o virtuosismo piano Bernardo Sassetti.
impressionei: com o contrabaixo Carlos Barretto.
surpreendi: com a bateria Alexandre Frazão.
detestei: a péssima acústica da sala a fazer perder o cromático musical.
detestei: ouvir os sinos da matriz em pleno solo contrabaixo. Isolamento acústico lamentável.
detestei: a falta de transporte público que me fez gastar mais em táxi que nos bilhetes.
mas valeu.

só me f... lixam!



se há coisa que me LIXA é a quantidade de LIXO com que a minha caixa de correio tem sido assediada ultimamente...

quarta-feira, setembro 21, 2005

buraco de sta. engrácia



O OLHARAPO está a crescer.
Para já, conta com um post chamado 'buraco de sta. engrácia' que vale a pena ver/ler.
Aqui: http://olharapoeiras.blogspot.com/

Outros posts se seguirão...

segunda-feira, setembro 12, 2005

olharapo



O 'olharapo de Oeiras' acaba de ver a luz do dia!
Aqui:

http://olharapoeiras.blogspot.com/

ou no link ao lado com o mesmo nome.

quinta-feira, setembro 08, 2005

exposições no Concelho de Oeiras

Olá, meus Caros!
Este post é muito rápido e só para anunciar dois eventos no Concelho de Oeiras:


"[ab] stratus de tempo"
Exposição de fotografia de David Lopes.
Edifício 51, Fábrica da Pólvora de Barcarena, Estrada das Fontainhas, Barcarena.
terça a domingo, 9 SET a 9 OUT 2005, 14:00-18:00.


"vista parcial"
Exposição de obras de seis jovens artistas de origem africana.
Galeria Municipal Lagar de Azeite, Rua do Aqueduto, Palácio Marquês de Pombal, INA, Oeiras.
terça a domingo, 13 SET a 30 OUT 2005, 14:00-18:00.


mais informações: Câmara Municipal de Oeiras - www.cm-oeiras.pt

nota: esta mensagem é simultaneamente distribuída aos grupos 'OeirasReminiscente' em http://br.groups.yahoo.com/group/OeirasReminiscente/ e 'o Olharapo de Oeiras' (mailing list privada).

Abraços,

domingo, setembro 04, 2005

Jornadas Europeias do Património 2005


Olá meus Caros!

Vão decorrer nos dias 17, 18 e 24 de Setembro de 2005 as "Jornadas Europeias do Património 2005".

No folheto de divulgação pode ler-se: "As Jornadas Europeias do Património são uma actividade conjunta do Conselho da Europa e da União Europeia. O seu principal objectivo é permitir, nos países participantes, o acesso gratuito a monumentos e sítios que não estão habitualmente abertos ao público (...)", e "(...) o património edificado no século XX é mais dificilmente reconhecido como um elemento a preservar e a analisar, destacámos uma peça arquitectónica existente no concelho (...)"

Dentro deste espírito as Jornadas Europeias do Património 2005 decorrerão no Estádio Nacional - Complexo Desportivo do Jamor.
A iniciativa incluirá a conferência "O Estádio Nacional — Um Paradigma da Arquitectura do Desporto e do Lazer", comissariada pela Prof. Dra. Teresa Andresen (FCUP), uma visita guiada ao local e um peddy paper.
Como o tema proposto pelo IPPAR para as Jornadas Europeias do Património 2005 é a Música, realizar-se-á ainda um concerto pelo organista Rui Paiva e a edição da brochura de divulgação da história do orgão oitocentista da Igreja Matriz de Oeiras.

mais informações: 21 440 85 29 - Câmara Municipal de Oeiras, Sector de Acção Cultural - www.cm-oeiras.pt

nota: esta mensagem é simultaneamente distribuída aos grupos 'OeirasReminiscente' em http://br.groups.yahoo.com/group/OeirasReminiscente/ e 'o Olharapo de Oeiras' (mailing list privada)

Fortes da Barra do Tejo


Olá meus Caros!

Creio já ter publicitado isto uma vez. Mas não é demais repetir, pela qualidade e valor destes eventos.

A Confiquatro, empresa vocacionada para o desporto/turismo náuticos, tem um programa muito rico e interessante de passeios no rio Tejo.

De entre eles destaco "Fortes da Barra do Tejo (Lisboa - Oeiras)", por ser aquele que para o nosso Concelho é o mais relevante.
A história de Oeiras é indissociável da história dos seus fortes. Estes foram edificados para garantir a defesa da barra do Tejo e impedir o acesso de esquadras inimigas à capital, Lisboa. Em 'bom português', "Quem quiser conquistar Lisboa têm primeiro que se haver co' a gentes d' Oeiras..."
E que experiência mais fascinante que ver os fortes do ponto de vista do 'inimigo', isto é, vê-los do mar? E, já agora, compreender 'in loco' a inexpugnabilidade dos mesmos e a quase impossibilidade de surpreender os lisboetas sem perder centenas de homens e dezenas de navios nesta autêntica muralha de pedra e fogo?

O passeio rio abaixo passa por: Torre de Belém, Forte de São Bruno de Caxias, Forte da Giribita, Forte de João das Maias e Forte de São Julião da Barra. Ao longo do percurso são também visíveis: Forte do Areeiro, Forte do Catalazete e Feitoria. Isto tudo sem esquecer a magia do Forte/Farol do Bugio.

Mais informações: www.confiquatro.pt

nota: esta mensagem é simultaneamente distribuída aos grupos 'OeirasReminiscente' em http://br.groups.yahoo.com/group/OeirasReminiscente/ e 'o Olharapo de Oeiras' (mailing list privada)

sábado, setembro 03, 2005

CICLO INTERNACIONAL DE JAZZ OEIRAS 2005



Meus Caros, tenho mais informações sobre o CICLO INTERNACIONAL DE JAZZ OEIRAS 2005, que publicitei no dia 13 de Agosto último.
Segundo o folheto recém-distribuído o programa é o que segue:

22 SET - TRIO BERNARDO SASSETTI (POR): Bernardo Sassetti (piano), Carlos Barretto (contrabaixo), Alexandre Frazão (bateria).

23 SET - MOUTIN REUNION QUARTET (FRA + EUA): Stéphane Guillaume (saxofones tenor e soprano), Pierre De Bethmann (piano), François Moutin (contrabaixo), Louis Moutin (bateria).

24 SET - SHEILA JORDAN + SERGE FORTÉ TRIO (EUA + FRA): Sheila Jordan (voz), Serge Forté (piano), Marc-Michel Le Bévillon (contrabaixo), Stéphane Grémaud (bateria).

29 SET - QUINTETO RODRIGO GONÇALVES (POR + ESP): Libert Fortuny (saxofone alto), Mário Delgado (guitarra), Rodrigo Gonçalves (piano), Demian Cabaud (contrabaixo), Alexandre Frazão (bateria).

30 SET - CHRISTIAN BREWER QUINTET (UK): Christian Brewer (saxofone alto), Jim Hart (vibrafone), Leon Greening (piano), Tom Herbert (contrabaixo), John Blease (bateria).

01 OUT - BEN ALLISON QUARTET (EUA): Ron Horton (trompete), Steve Cardenas (guitarra), Ben Allison (contrabaixo), Michael Sarin (bateria).

local: Auditório Municipal Eunice Muñoz, Oeiras.
dias: Quintas, Sextas e Sábados, 22h00.
bilhete diário: plateia 6 € / balcão 5 €.
bilhete ciclo: plateia 30 € / balcão 25 €.
informações: DCT/Sector de Acção Cultural tel.: 21 440 85 822/24 - paulo.afonso@cm-oeiras.pt

HAJA SWING !


Cumprimentos,
José António
Oeiras, Portugal.

nota: esta mensagem é simultaneamente distribuída aos grupos 'OeirasReminiscente' em http://br.groups.yahoo.com/group/OeirasReminiscente/ e 'o Olharapo de Oeiras' (mailing list privada).

sexta-feira, agosto 26, 2005

A Bela e o Monstro ???




A Bela e o Monstro ou o Anjo e o Demónio?
E qual é qual?

Só 'tou perguntando.
Quem souber, responda. :)


"Livrai-vos de cuspir contra o vento" - Zaratustra

domingo, agosto 14, 2005

o comboio do fantasma



Muito se tem criticado o SATU: que ninguém o usa, que só serve para fazer despesa, a gastar energia, a pagar a técnicos, porque anda ali para cima e para baixo o dia todo, sempre vazio.
Que anda para cima e para baixo o dia todo, enfim, agora VAZIO... não é de todo verdade!
Basta um salto ao Site da Câmara Municipal de Oeiras, para o ver o dia todo de um lado para o outro, é certo, mas olhando com atenção vê-se dentro dele a figura fantasmagórica do Marquês de Pombal, que nunca em vida deve ter sonhado um dia andar-se a passear numa página de Internet.

O SATU pode não servir para mais nada, mas serve para passear o fantasma...

Ah, e já agora, por falar em Marquês: Bem que se podiam lembrar do triste e quase invisivel monumento ao Marquês de Pombal colocado na beira da Rotunda do Marquês, na Qta. do mesmo nome, e dar-lhe um pouco mais de DIGNIDADE, não?

sábado, agosto 13, 2005

JAZZ em Oeiras



Meus Caros, é sempre de saudar!
Segundo o anúncio publicado no Roteiro da Câmara Municipal de Oeiras, 30 DIAS de Agosto de 2005, vamos ter JAZZ em Oeiras.
Ainda segundo o mesmo, o programa é o que segue:

Trio Bernardo Sassetti (POR).
Moutin Reunion Quartet (FRA + EUA).
Sheila Jordan + Serge Forté Trio (EUA + FRA).
Quinteto Rodrigo Gonçalves (POR + ESP).
Christian Brewer Quintet (UK).
Ben Allison Quartet (EUA).

22 SET a 1 OUT 2005.

local: Auditório Municipal Eunice Muñoz, Oeiras.
dias: Quintas, Sextas e Sábados, 22h00.

HAJA SWING !

segunda-feira, agosto 08, 2005

o carteiro do P.S.

Seriam umas 11:50 quando hoje soou a campainha da porta. O timbre indicava que era a campainha da entrada do prédio e não a do patamar. Pensei "a esta hora se calhar é publicidade... ou algum pedinte" e continuei na minha árdua tarefa de me barbear. A minha mulher estava a pé, ela iria à porta atender.
Poucos minutos depois, completas as minhas abluções, saí da casa-de-banho e ao cruzar-me com ela perguntei-lhe "Quem era?", "O carteiro" respondeu-me.
Estranhei porque o mesmo só costuma aparecer lá pelas 12:30, mas talvez hoje estivesse acelerado coisa estranha num dia quente de verão talvez estivesse esfomeado.

Seja como for, o carteiro costuma escolher o andar para onde toca para a abertura da porta do prédio escolhendo um dos andares para o qual haja correspondência lógica de carteiro que me faz lembrar Neruda.
Como trabalho em casa sou muito caseiro e o tipo já me apanhou a presença lareira além de eu receber muitas contas para pagar, o botão da minha campainha já está metido para dentro com a impressão digital do carteiro... é por isso que sei bem a que horas ele costuma aparecer e aquela lógica dele para escolher para casa de que condómino vai tocar.
A minha lógica simples e geral dizia-me então que se ele tinha tocado para mim então logo existo e então eu tinha certamente correspondência na minha caixa de correio. Pois é. Mas desta feita a minha pobre lógica deixou-me ficar mal.
Quando pelas 12:26 desci para ir almoçar abri a caixa de correio para ver se seria mais uma das habituais continhas...

Oh! Espanto!
Lá dentro, um simples envelope branco com alguns dizeres impressos na frente, nos cantos superiores dum lado "oeiras a mudança tranquila www.oeirastranquila.com", do outro lado "infomail", e sem qualquer selo, carimbo ou vinheta, logo não tinha vindo pelo correio, tinha sido posto em mão. A caixa nada mais continha nenhuma correspondência.
Cheirou-me a esturro mas curioso, abri o envelope, para constatar apenas que envelopava uma missiva impressa dum dito cujo candidato socialista às eleições autárquicas a convidar-me a votar nele por ele e o partido dele se acharem o mÁximo!

Por acaso, ainda estou algo indeciso sobre o meu sentido de voto. Oeiras não é um Concelho onde a escolha seja fácil, em particular para quem nutre por ele um sincero carinho. E por 'indeciso' refiro-me a todo o espectro político da Esquerda (ou aparentado.)
Mas se eu não estava inclinado para o P.S. então agora é que posso dizer que neles não voto de certeza!
Pois se para fazerem campanha eleitoral vale tudo, vale até o tipo ou tipa ou afim que anda a distribuir a propaganda MENTIR aos munícipes e fazer-se passar pelo carteiro para garantir que lhe franqueiam a entrada, imagino como serão com o poder...

p.s. (o scriptum...): curioso a dita missiva mencionar coisas como qualidade de vida obras estruturantes acessibilidades creches infantários trabalhadores famílias felizes fóruns provedores web (leia-se micro$ofre e windows) e etecéteras, e não ter uma única menção à palavra CULTURA... olhem que esta já foi inventada... há muitos anos...


NISI CREDIDERITIS NON INTELLIGETIS

segunda-feira, junho 27, 2005

COOL JAZZ FEST

Caros visitantes:

Aproxima-se a segunda edição do COOL JAZZ FEST, que se realiza de 10 a 30 de Julho de 2005.
Do programa sobressaem os 3 primeiros espectáculos, que terão lugar em Oeiras:
10 - Us3 - Casa da Pesca, Oeiras
12 - José Feliciano - Casa da Pesca, Oeiras
13 - Thievery Corporation - Casa da Pesca, Oeiras
16 - Maria Bethânia - Jardim do Cerco, Mafra
26 - Mariza - Cidadela, Cascais
27 - Jaime Cullum - Cidadela, Cascais
30 - Marianne Faithfull - Cidadela, Cascais
Todos os espectáculos começam às 22 h.

No site oficial pode ler-se, cito: "A primeira edição do COOL JAZZ FESTIVAL, decorreu de 9 a 26 de Julho de 2004, em várias salas dos concelhos de Mafra, Sintra (Património Mundial da Unesco), Oeiras e Cascais. A escolha recaiu sobre estes locais por serem zonas emblemáticas, descontraídas, reconhecidas como locais turísticos ao nível nacional e internacional e, de certa forma, associadas à música, ao lazer e à descontracção.
Em cada concelho os espaços escolhidos, históricos, bucólicos e intimistas, acolheram este Festival num ambiente único, abrilhantado com as actuações de Ravi Coltrane, Adriana Calcanhotto, Roy Ayers Camané, Ed Motta, Barbara Hendricks & the Magnus Lindgren Jazz Quartet, Jacinta e Buddy Guy.
Em 2005, o desafio continua, trazer artistas de qualidade, dentro do conceito do Cool Jazz Fest.
As palavras de ordem do 1.º COOL JAZZ FESTIVAL são: criatividade, fusão e liberdade musical, diversão e descontracção.
Tendo como referência festivais consagrados como Tim Festival (Brasil) e o Festival de Jazz de Montreaux (evento que vai já para a 38ª edição e hoje em dia apresenta também derivações e fusões com outros estilos musicais, que não só o Jazz), este evento pretende – reconhecendo ainda a sua fase embrionária – assumir-se como um evento de referência no panorama musical português.
A constatar pelo calibre dos nomes que compõem o cartaz do COOL JAZZ FEST’2005 – Jamie Cullum, Marianne Faithfull, José Feliciano, Us3, Mariza, Thievery Corporation, Maria Bethânia -, acreditamos que a 2.ª edição deste festival será novamente um sucesso."

Mais informações no Roteiro 30 Dias de Julho (editado pela CM Oeiras) e em http://www.cooljazzfest.com/

HAJA SWING !

quinta-feira, junho 16, 2005

lembrete

ADIAFA !

Amanhã, às 22 h., no PICADEIRO, Jardim Municipal de Oeiras, os ADIAFA !

quinta-feira, junho 02, 2005

música nas Festas de Oeiras

Olá Visitante.
Estão quase a começar as tradicionais Festa de Oeiras!

Ora, é o calor e as noites quentes de Verão... são os Santos Populares e os bailaricos... é a bela sardinha assada e o valente chouriço assado... o que quer que seja, acompanhado dum bom tinto alentejano... talvez seguido dum passeio nocturno à beira-rio / beira-mar, em boa companhia... são coisas a convidar a não ficar em casa!

Para quem gosta de música, destaco do programa das Festas (03-19 Junho), para quase todos os gostos:

03, sex., 22:00 - Rui Veloso - Parque dos Poetas, Oeiras.
04, sab., 22:00 - Tony Carreira - Palco da Feira, Oeiras.
05, dom., 22:00 - Paulo de Carvalho e Banda - Palco da Feira, Oeiras.
06, seg., 22:00 - Camané - Largo 5 de Outubro, Oeiras.
09, qui., 22:00 - André Sardet - Fábrica da Pólvora, Barcarena.
10, sex., 22:00 - Pedro Miguéis - Palco da Feira, Oeiras.
11, sab., 22:00 - Vitorino e Banda - Centro Cívico de Carnaxide.
17, sex., 22:00 - ADIAFA - Palco da Feira, Oeiras.
18, sab., 22:00 - Madredeus - Casa da Pesca, Oeiras.
19, dom., 22:00 - Pedro Abrunhosa - Zona Ribeirinha, Algés.

nota: este apontamento é passível de erros e omissões pelo que aconselho a que o programa oficial seja consultado no site da Autarquia, em http://www.cm-oeiras.pt/

Bom fim-de-semana e boas sardinhadas!

quinta-feira, maio 26, 2005

Oeiras Local - informaçao

Olá !
Hoje não trago uma estória mas uma informação.
Venho divulgar um outro blog de cuja existência tomei há dias conhecimento, e que me parece merecer destaque e uma visita.
Chama-se Oeiras Local, debate temas relacionados com o Concelho de Oeiras e, pelo que me pareceu, fá-lo com um espírito bastante democrático.
Podem encontrá-lo aqui: http://oeiraslocal.blogspot.com/

Até já!

sábado, maio 07, 2005

in memoriam - António Martins

Este texto é uma pequena e breve homenagem a um homem que, se fosse vivo, faria hoje 126 anos e que conheceu Oeiras muito antes de eu ter vindo ao mundo.



ANTÓNIO FERREIRA MARTINS nasceu a 7 de Maio de 1879 em Albergaria-a-Velha, filho de Ana da Silva dos Santos. Não lhe conheço nome de pai mas tê-lo-ia certamente como todos nós e, segundo o meu pai, que o conheceu bem pois foi educado por ele, ele sabia quem era o seu progenitor (há quem diga que era o patrão de sua mãe...)
A crer no Bilhete de Identidade 118336-A, datado "Lisboa, 28 de Outubro de 1941", era um homem baixo, 1.60 m., e tinha olhos castanhos.

Sou bisneto dele e a partir daqui vou referir-me a ele como o 'avô', pois foi assim que sempre ouvi referi-lo, ao longo de toda a minha vida. Não só pelo meu pai, seu neto por parte de mãe, mas por todos os familiares, incluindo o meu ramo materno, pois o avô foi uma referência e um pilar de toda a família enquanto foi vivo, e ainda é recordado com profunda saudade por todos.

Enviuvou de Candida Mendes Martins, sendo uma das filhas deste casamento Hortense Martins. Esta Hortense é a mãe de meu pai, e portanto Candida é avó de meu pai.
Casou em segundas núpcias com Sofia da Silva, de quem, aliás, não houve descendência.
E aqui começa a desenhar-se o motivo que o tornou um pilar central da família.
Sofia era irmã de Angelina, minha avó materna, logo era tia da minha mãe.
O avô era avô do meu pai, este casado com a minha mãe, logo era 'avô adoptivo' desta...
Sofia era mulher do avô, avô do meu pai, logo 'avó adoptiva' dele...
O avô era marido de Sofia, tia da minha mãe, logo 'tio adoptivo' dela...
Sofia era tia da minha mãe, casada com o meu pai, logo 'tia adoptiva' dele...
Assim, o avô era simultaneamente avô e 'tio adoptivo' do meu pai, e Sofia era tia e 'avó adoptiva' da minha mãe! Os meus pais, além de esposos, são 'primos adoptivos'!!!
Claro que com esta relação entre os dois ramos familiares, toda a gente se sentia 'neto' do avô, p.ex. os irmãos da minha mãe, os primos dela, etc.

Desconheço o percurso do avô desde que saiu da terra onde nasceu até se fixar em Lisboa. Sei que trabalhou na Metalúrgica de Benfica, julgo que era uma fundição, onde terá fundido os candeeiros de ferro que rodeiam o obelisco dos Restauradores. Orgulhava-se, aliás, de o ter feito, pois fundiu-os em peça única, contrariando a opinião do engenheiro, que considerava tal coisa impossível e que após constatar os bons resultados do trabalho, deu o braço a torcer e fez questão de desfilar de braço dado com o avô pela oficina, entre alas formadas pelos operários. O engenheiro de fato e gravata, o avô de fato-macaco sujo e encardido... O avô contava esta história com grande orgulho e entusiasmo, segundo testemunhos. Sei que mais tarde, já comerciante, a sua firma teve relações comerciais com esta empresa.

Desconheço também o que aconteceu até casar com a minha tia-avó Sofia.
Tanto quanto sei, ela, empregada numa fábrica ou oficina, conheceu-o por via do armazém de velharias (ferro-velho, sucatas) que o avô tinha em Alcântara ao lado do local de trabalho dela... ele, homem dos seus cinquenta e tal anos... ela, moçoila de vinte e poucos anos... e as coisas aconteceram...
Como certo tenho que o avó, era um comerciante ligado à indústria.
Tinha o citado armazém de 'trastes' em Alcântara. Talvez tenha começado aqui a sua actividade comercial.
Sobre esta actividade há uma história trágica. Alguns operários da firma do avô tinham ido a uma fábrica, relacionada, ao que se sabe, com gás, desmontar alguns equipamentos ou máquinas. Estas teriam sido adquiridas pela firma do avô à tal fábrica, que certamente já não necessitava delas, para serem vendidas como sucata. Quando estavam a trabalhar ocorreu uma explosão que, tanto quanto sei, matou um ou dois dos operários. O avô pagou uma choruda indemnização às famílias, pois estes operários estavam a trabalhar numa situação ilegal.
O mencionado armazém talvez pertencesse à empresa de sucata, de grande dimensão, "Martins & Cadório, Lda." da qual o avô era sócio, julgo que ou maioritário ou com metade das quotas, ou não faria sentido o seu nome aparecer na designação da firma. Ou talvez esta firma tenha nascido a partir da actividade daquele armazém.
Para dar uma ideia da dimensão desta empresa, à data da morte do avô, estava acostado no cais de Alcântara um velho cargueiro que a empresa tinha adquirido para desmantelar e vender a sucata resultante às fundições.
Negociavam sobretudo com fábricas e fundições, de metalurgia e metalomecânica, e por isso a sua ligação a Oeiras, por via dos negócios que tinha com a Fundição de Oeiras.

Era grande amigo do Cardoso, que foi dono da Fundição de Oeiras, e frequentava a casa deste, nesta localidade, junto à estação da CP.
Julgo saber que o Cardoso apenas terá adquirido a Fundição de Oeiras nos anos 40. Desconheço se este Cardoso já tinha alguma ligação anterior com esta. Talvez fosse engenheiro e lá tivesse trabalhado antes de a adquirir, o que era algo comum na época. Tenho documentos fotográficos de visitas do avô ao que ele chama a "Quinta do Cardoso" datadas de 29 de Agosto de 1926 que mostram o avô e o Cardoso na casa deste. Isto demontra que o avô já conhecia o Cardoso nesse ano e também que já frequentava Oeiras nessa época. Disto presumo que talvez nessa altura já existissem relações comerciais entre a "Martins & Cadório, Lda" e a "Fundição de Oeiras".
Era ainda sócio da "Sociedade Ultramarina de Conservas, Lda.", proprietária duma fábrica de conservas, situada em Cabo Verde. Fábrica esta que, segundo ouvi, na Segunda Guerra Mundial forneceu os exércitos alemães. Há poucos anos esta fábrica ainda se encontrava em laboração.
Foi por esta via que a família conseguiu contornar parcialmente o racionamento imposto pela guerra. O avô recebia, na sua qualidade de 'patrão', latas de atum em sua casa que distribuía pelos familiares. Eram umas latas redondas, umas mais pequenas e outras maiorzinhas.
A minha mãe conta a propósito deste período negro da nossa história, que alguém, não sei quem, ia à "Sena Sugar Estates" (antiga "Refinaria Colonial"), fábrica de açúcares em Alcântara, onde em tempos tinha trabalhado o meu avô Júlio Baptista como guarda-livros, buscar açúcar, que lhe era fornecido em pacotes com torrões quase negros de açúcar. Talvez o chamado 'açúcar mascavado' (tenciono falar um destes dias dos meus avós e daquele período 'fantástico' dos anos 20-30 em que viveram, se a tanto me ajudar engenho e arte...) O edifício desta refinaria foi demolido há poucos anos (por volta de 1993 a refinaria foi abandonada). Era um enorme edifício de tijolo e situava-se junto da estação da CP. Tenho uma vaga ideia de que o mesmo chegou a pertencer à Sidul/Sores. Quanto à Sena Sugar, encontrei na Internet referências à empresa que a situam actualmente na África do Sul.

O avô gostava de passear: Espanha, França, Marrocos, foram locais onde veraneou em turismo, sempre acompanhado da esposa Sofia. Chegou mesmo a fazer-se acompanhar dos meus pais nalguns desses passeios turísticos, quando eles eram namorados.
Era, certamente, um homem duro e rigoroso. O meu pai conta que um dia levou um valente estaladão do avô, e já tinha 18 anos, por este o ter surpreendido a fumar um cigarro! Segundo o meu pai, estava distraído a sorver o fumo da sua cigarrada quando o avô surgiu por trás sem que ele se apercebesse e de repente... Plaf!, sai um chapadão! O avô não tinha dado autorização ao meu pai para fumar, daria mais tarde, e não admitia abusos.
Do seu carácter sobressai também que era um homem que gostava da boa mesa. Frequentava as melhores casas de Lisboa, como o Martinho da Arcada e o Tavares Rico, onde se reunia com os amigos frequentemente em grandes comezainas que, aliás, parece que ele é que pagava e por isso estava sempre rodeado de muitos amigos.... Existem muitos documentos fotográficos que o comprovam.
O meu pai conta a este propósito uma história, creio que passada no Martinho, que demonstra bem o seu apetite voraz: Era hábito o avô comer sopa, e aquele dia não foi excepção. O empregado, solícito como sempre, que as gorjas eram avultadas, trouxe a sopa do costume. Mas esta não encheu as medidas do avô, e ele pediu outro prato de sopa, que o empregado trouxe de imediato. Contudo o avô estava num dia de particular apetite e esta segunda sopa teve que ser seguida por outra... e outra... e outra... até o empregado se acercar embaraçado, acompanhado do cozinheiro, e comunicarem, após milhões de desculpas, ao "Sr. Martins que já não tinham mais sopa". O avô tinha, literalmente, devorado 19 pratos de sopa!

Entre os seus grandes amigos, e refiro-me aos verdadeiros, contava-se também o Sr. José Gonçalves Monteiro, proprietário da conhecida Casa Monteiro, na Baixa lisboeta. Sobre este Sr. Monteiro corre também uma história na família: Ao que parece, ele era casado (D. Laura) mas não tinha filhos. Talvez problema dele, talvez da esposa. A verdade é que se sentia infeliz por não ter descendência a quem deixar o seu 'império', conquistado à custa de tanto esforço. Refiro-me em especial à Casa Monteiro, na Baixa Lisboeta. Um dos grandes armazéns lisboetas, rival dos Armazéns do Chiado e da Casa Grandela. Diz-se que, quando eu nasci, o Sr. Monteiro ofereceu 300 contos, uma imensa fortuna na época (1957), ao meu pai, que trabalhava lá na casa, para abdicar da minha paternidade e permitir que ele me aperfilhasse e que eu fosse viver com ele e a mulher para ser educado por eles, como filho deles, e assim tornar-me herdeiro dele. O meu pai recusou... quem me conhece nota...

Só me lembro de ter visto o avô uma única vez. Apenas uma, mas é uma imagem que se gravou a fogo na minha memória, e se tornou indelével. Foi pouco antes de ele falecer e eu teria os meus 3 anos.
Foi na casa que ele habitava, num prédio da Rua Domingos Sequeira, na Estrela.
Lembro-me de ter entrado numa sala ou quarto, mergulhado na semi-obscuridade, no centro do qual estava um senhor idoso imóvel, sentado numa enorme poltrona. Parece-me recordar que tinha um cobertor sobre as costas e outro sobre as pernas. Estava bastante agasalhado. Alguém, talvez o meu pai, disse "zézinho, este é o teu bisavô". Aproximei-me dele levemente, olhei-o com os meus olhinhos infantis e curiosos, e julgo que me acariciou os cabelos. Nunca mais o vi.

Por vezes penso no quanto ele saberia sobre Oeiras, como esta era quando ele a visitava. A estação de comboios, as ruas, as quintas, a praia, o ar... O que ele sentia e o que os seus olhos viam quando aqui vinha. Como eram as casas, as gentes... tantas perguntas que eu teria para lhe fazer...

Pois é, gostava de ter conhecido o AVÔ.


post scriptum: indo a http://homepage.mac.com/zetolas/Hueiras/PhotoAlbum9.html - ou clicando AQUI -, pode ver algumas das citadas fotografias do avô em Oeiras em 1926.

terça-feira, dezembro 07, 2004

Bairro-Liceu


Como já referi noutra prosa, quando vim para Oeiras fomos morar para a casa do 43 da avenida Infante D. Henrique. Aí permanecemos cerca de dois anos. A propósito desta casa, segundo me lembro, ela pertencia a um homem do Partido Socialista cujo nome não recordo agora, e que na altura estava preso. Íamos a Nova Oeiras pagar a renda, a casa do advogado dele, que também estava preso!!! Sim, que a Pide adorava prender pessoas, e quando lhe dava para aí, começava numa ponta e acabava na outra. Ia tudo dentro! Às vezes pergunto a mim mesmo como ainda havia pessoas fora da cadeia em Portugal...
Nesse interim em que ali vivemos, e hei-de escrever também sobre esta casa, estava a ser construído o cognominado 'Bairro Novo', do Fundo de Fomento da Habitação, contíguo ao 'Bairro Velho', da mesma instituição (pseudo habitação social...), na antiga Quinta da Medrosa.

O nome desta antiga quinta servia também para designar ambos os Bairros, como 'O Bairro da Medrosa', aglutinando-os numa unidade habitacional que, quando era usada como resposta ao 'onde moras?', habitualmente provocava a pergunta 'no Novo ou no Velho?' ou ainda, mercê da relação topológica, 'no de Cima ou no de Baixo?'.
Era ainda apelidado de 'Bairro das Caixas', não devido ao aspecto ou à qualidade arquitectónica do mesmo, mas derivado de 'Caixas de Previdência', através das quais, julgo saber, era feita a inscrição para obtenção de casa. É, o Bairro, os Bairros, tinha, tinham, muitos nomes...

Mas para a generalidade dos oeirense e mesmo forasteiros, não pasmem porque tem uma explicação muito chã, a simples menção de Medrosa era mais que suficiente para situar o local.
A explicação para muitos forasteiros conhecerem a Medrosa era o facto de a Praia da Torre ser local de veraneio para muitos. Como não existia qualquer espécie de transporte (eu devia dizer 'já não existia'; ao que parece, em tempos remotos, existiu um transporte em carroça), as pessoas faziam o percurso entre a estação de comboios de Oeiras e a praia a pé. O percurso mais curto era precisamente seguindo pela avenida Infante D. Henrique e atravessando pelo meio do Bairro. Mesmo seguindo pelo percurso mais longo e natural, a Estrada Militar (hoje Estrada da Torre), esta bordeja a Medrosa, a bombordo, separando-a dos Lombos, a estibordo.

Faço aqui um pequeno apontamento intercalar sobre os dois Bairros: Para além da qualidade de construção e acabamentos, superior no mais antigo, o Bairro Velho, este era de renda económica. O Bairro Novo era de renda resolúvel, pelo que ao fim de 25 anos as casas passaram automaticamente a pertencer de pleno direito aos respectivos moradores. No Bairro Velho, creio que ao fim dos 25 anos, os moradores tiveram que comprar as casas para ficarem com elas. Acho que pagaram o diferencial entre o que já tinham pago em rendas e o valor das habitações.
Seja como for, havia muita gente a saber onde era a Medrosa e o respectivo Bairro.

Foi para este Bairro da Medrosa, o Novo, que mudámos então, passado algum tempo.
Isto terá ocorrido em 1972, talvez por altura das férias do Verão, visto que só habitámos o 43 cerca de dois anos, e não creio que tenhamos feito a mudança a meio do ano lectivo. Sei que estávamos à espera que acabassem a construção do Bairro e que a casa que fomos habitar ainda esteve habitada por outra família, que a estreou e lá morou durante cerca de um ano.

Lembro-me de, antes de entrar para o Liceu (1973), algumas vezes ir a pé para o Colégio Portugal, na Parede, pela praia fora, só pelo gozo do passeio.
Saía de casa, na praceta Gonçalves Zarco n.º 5, onde habitávamos o 4.º andar, e que os meus pais ainda habitam, seguia pela Estrada Militar até ao Forte de São Julião da Barra, inflectia à direita na direcção da pequena Praia do Moinho, e seguia pelo 'paredão' da Praia de Carcavelos. Dum lado o mar imenso, do outro a Avenida Marginal e a Quinta dos Ingleses. Apenas no fim da praia surgiam as primeiras construções, no Junqueiro, sobressaindo pela dimensão o Hotel Praia Mar e o Hospital Dr. José Almeida, já à entrada da Parede, na Ponta da Rana.
Este magnífico passeio era uma oportunidade excelente para 'catar' toda a espécie de fósseis, existiam imensos espalhados pelo chão junto ao 'paredão', e era só metê-los no bornal. Na sua maioria eram Turritelas, das quais guardo ainda uma meia dúzia. Na Ponta da Rana, próximo dos viveiros, existia também um grande rochedo cuja superfície era um incrível mar de cristais. Não sei o que era. Mas existiam pedaços a juncar o chão à volta, e também aí recolhi alguns espécimes desses cristais que, apesar do meu interesse pela Geologia, nunca soube o que eram. Mas lá bonitos, eram eles! E como faziam brilhar a minha in-fi-ni-ta colecção de rochas, pedras e calhaus!

Durante esse ano lectivo de 72-73, o meu percurso habitual era pela avenida Infante D. Henrique ou pela Estrada Militar, até à estação de comboios de Oeiras. Exceptuavam-se, como já referi, os eventuais percursos a pé pela praia.
Em 1973 entrei finalmente para o Liceu Nacional de Oeiras, para frequentar o antigo 6º Ano. A minha forte apetência pela área científica levou-me a optar pela alínea de Geologia. Apenas dois anos para acabar o Liceu e depois... quem sabe, talvez desse para a Faculdade. Mas muita água correria ainda por baixo da ponte...
O meu percurso a caminho das aulas, que era antes feito entre casa e o Colégio Portugal, mudou então e passou a ser através do Bairro Novo e do Bairro Velho em direcção ao Liceu.
Seguia pela rua D. Filipa de Lencastre, descia a rua à esquerda, rua Infante Santo, hoje serventia do Casal da Medrosa.
Chegando à avenida D. João I o panorama era muito diferente do de hoje. As vivendas na rua Alexandre Herculano já existiam. Mas pouco mais havia, e o que ali estava desapareceu para sempre.

Olhando para a esquerda, via-se o Bairro Velho, e em frente do outro lado da avenida um terreno baldio a confinar com as traseiras das vivendas da rua Alexandre Herculano. Este espaço está hoje ocupado pela Igreja, pelo snack Sentença, e por um parque de estacionamento.
Olhando para a direita, via-se logo ali ao lado uma taberna, genialmente chamada de "Apolo 70", talvez porque a fauna habitual normalmente saía de lá em condições óptimas para entrar em órbita..., frente à qual estava uma enorme e elegante palmeira, que me impressionava pela altura que atingia. Desafortunadamente não tenho nenhuma fotografia da mesma, mas se não ultrapassava a altura dos prédios do Bairro Velho (4 pisos), muito não faltaria. Também esta seguiu o destino de muitas outras espécies arbóreas, trucidadas impiedosamente pela sanha urbanística.
A seguir a esta taberna existia um imenso bairro de barracas que só acabava no fim da avenida, onde esta entronca com o princípio da rua Infanta D. Isabel. Aquele troço de rua que dá acesso ao Lar dos Filhos dos Oficiais e Sargentos, na época ligava directamente à Avenida Marginal. Não existia a rua da Cidade do Mindelo, recente, paralela à Avenida Marginal, que cortou este acesso. Esta referida zona está hoje ocupada por parte do Casal da Medrosa, pelo Pavilhão Desportivo Escolar e pela Escola Preparatória de São Julião. Em frente às barracas, do outro lado da avenida, existia apenas o Campo da Bola, no espaço hoje ocupado por um condomínio privado (mais um...).
Olhando em frente tinhamos a calçada com que termina a rua Infante Santo, que liga à rua Alexandre Herculano, calçada que ainda existe.
Do lado direito desta era também terreno baldio até ao Campo da Bola. Hoje está ocupado pelo Tribunal.
Ainda do lado direito da calçada e bordejando esta existia uma meia dúzia de figueiras que davam os mais doces e celestiais figos que já alguma vez comi. Por isso tantas vezes ali íamos à 'chinchada'. Era à sombra destas figueiras que existia ali um acampamento permanente de ciganos, com os quais, aliás, nunca tivemos problemas.

Sobre estes ciganos conta-se uma história muito engraçada: Aquando da 'campanha' de erradicação de barracas promovida pelo Isaltino de Morais, que acabou com o bairro de barracas já citado anteriormente, diz-se que o presidente terá dado cerca de 100 contos áqueles ciganos para sairem dali e do Concelho.
Eles sair, até sairam. andaram 200 metros mais para o lado e acamparam do outro lado da Estrada Militar!
Ora o 'outro lado' já é pertença do Concelho de Cascais, logo...
No dia seguinte andava o cigano pelo Bairro a conduzir o seu novo triciclo motorizado azul, certamente comprado com a massa recebida do Isaltino, com as ciganas sentadas atrás, e com um sorriso malicioso no rosto, talvez a recordar a cara do Isaltino quando lhe passou as notas para a mão, sim que os ciganos não aceitam cheques.
Se a história é verdadeira ou falsa, não posso confirmar. Apenas confirmo a 'migração' para a 'outra banda' da Estrada Militar, porque vi o acampamento nesse local, onde permaneceu durante largo período, e a cena do triciclo azul, porque a testemunhei.

Enfim, após subir a calçada, virava à direita, já na rua Alexandre Herculano, e pouco depois virava à esquerda, para subir a rua do Liceu, et voilá! Aulas e depois o regresso a casa pelo percurso inverso, com mais uns figuitos pelo caminho, e muito regabofe, que sempre se encontravam amigos pelo caminho e isto de ser adolescente tem muito divertimento à mistura!

Como o Bairro da Medrosa era diferente naquele tempo!

sábado, dezembro 04, 2004

forja de caracteres


Quando em 1970-72 eu miúdo acordava estremunhado com o uivo sinistro da sirene da Fundição, ali mesmo ao lado da minha casa, ali mesmo ao pé da minha cabeça, ali mesmo aninhado na minha almofada, a gritar doidamente que era chegada a hora...
quando espreitava à janela no meu ensonado voyeurismo matinal para, por entre a veladura das ramelas, ver a chuva cair lá fora, a anunciar um frio, arrepiante, deprimente e molhado dia de Inverno, ou para ver a límpida luz do sol prenunciadora dum belo dia de praia, prenhe de alegrias, risos e prazeres...
quando via passar lá em baixo na rua as operárias e os operários a caminho de mais um dia suado, imensa mole de ganga escura e remendada, lugubremente encardida pela fuligem, que sabão algum do mundo conseguia expurgar...
quando passava, frente áquele enorme portão verde de correr, evocativo das grades de uma prisão, no seu ar ameaçador de boca escancarada, gulosa e lasciva, que convida a entrar para logo de seguida se fechar nas nossas costas com um sorriso malévolo de quem sabe que nos tem na mão, aprisionados para sempre, o que se tornou realidade para alguns, que lá deixaram dedos, mãos, braços, triturados, mastigados e devorados por aquela máquina gigante e antropófaga, antropofagia do ser incauto...
quando olhava infantilmente, contudo sobranceiro e altivo, do terraço do 43 para as coberturas das secções, por baixo das quais, sabia, escorria o sangue e o suor dos labutadores à míngua da sobrevivência pedinchada, numa época em que a única aspiração do povo era o ar...
quando sentia e quase via aquele grosso rio de ferro em fogo líquido escorrer braseiro, denso e rubro, numa força medonha e milenar cristalizada na história dos homens, forjados, forjadores, de forjas forjadas, dialéctica metalúrgica companheira da outra...
quando encontrava numa vala medroseira as escórias displicentemente abandonadas, infraprodutos residuais vidrados, belas na translucidez esverdeada, mas inúteis e abandonadas ao esquecimento da sepultura sob os posteriores edifícios outeirianos e lombosianos e condomínios privados, assombrados por fantasmas vulcânicos evolados delas...
quando falava com alguém que lá tinha trabalhado e que tinha sempre histórias as mais fascinantes de-ser-operário-num-país-fascista para narrar, como aquela em que os patrões fecharam a fábrica durante vários dias com os operários lá dentro, numa inglória batalha da produção, para sustentar inúteis esforços de guerra, alimentando-se aqueles homens com a comida que as mulheres lhes levavam diariamente e passavam através das grades...
quanda lá entrei pela primeira vez, para um comício, um encontro, um almoço ou algo assim, no calor da refrega e do ardor revolucionários imediatos à acção capitã, em que nos chamávamos ches, lenines, karls, josefes, fideles, maos, mas também zés e marias...

... eu não imaginava que um dia, em 1981, eu ali entraria para, durante quase dois anos e meio, me forjar operário de metalomecânica!

quinta-feira, novembro 25, 2004

novos links


Olá visitante.

Chamo a atenção para os dois novos LINKS deste blog.
Estão aqui mesmo ao lado e chamam-se:
"Património Histórico e Cultural de Oeiras" e "Oeiras em fotografia".

O primeiro conduz a um grupo de discussão aberta sobre Património de Oeiras.
O segundo encaminha para uma página com algumas fotografias de motivos patrimoniais interessantes localizados em Oeiras.

Até breve.

quinta-feira, outubro 28, 2004

adeus choupo que foste vítima de mentecaptos

1.

Hoje o acordar foi triste.

Eram talvez umas 09:45 quando saí do quarto e entrei no escritório.
Olhei pela janela, em parte para ver como estava o tempo, ultimamente manhoso, mas também para deixar os meus olhos passearem-se pela copa do magnífico e imponente choupo, visível a uns 5 ou 6 metros da minha varanda.

Um pormenor de imediato captou a minha atenção: um preto empoleirado num ramo, de serrote em punho, serrava furiosamente algumas grossas ramadas à sua volta.
No entorpecimento matinal, ocorreu-me ingenuamente que a Câmara, receosa de potenciais acidentes, ou avisada da iminência de algum, tivesse decidido podar algumas ramadas de natureza mais instável.

Achei bem.
Há que zelar pela segurança de pessoas e bens.
Há que acautelar, antes, para não ter depois que 'reparar o irreparável'.

Sentei-me na cadeira e concentrei-me no ecrã do computador.
Havia muito trabalho para fazer.
Muitas ilustrações para desenhar.
Assim se passou talvez uma ou duas horas.
Concentrado, como é meu hábito, desligado de tudo o que me rodeava, não assisti, felizmente, ao crime hediondo e inqualificável que estava a ser perpetrado.

Fui para ele despertado pelo grito de horror de minha esposa, que entretanto entrara no escritório:
— Destruíram o nosso choupo!
Olhei para a janela e fiquei horrorizado, completamente estarrecido.
Da frondosa e imensa copa, refúgio de centenas de pardais e outra passarada, já nada existia.

Via-se apenas a ponta serrada, partida, triste e ferida do tronco, projectando-se deste os cepos selvaticamente rachados do que antes foram grossos ramos e compridas ramadas, que sustentavam como braços de gigante aquela copa imensa que murmurava no silêncio da noite, que dançava na brisa fresca, que tantas vezes me embalara em noites de insónia.

É indescritível, é inefável, o som do murmúrio daqueles milhares de folhinhas a roçagarem umas nas outras no silêncio lunar.
Não tenho palavras para descrever o profundo, sublime, sentimento de prazer provocado por essa sinfonia, que era o ciciar das folhas acompanhado pelo pipilar cúmplice da passarada.
Quantas vezes, à noite na cama, me deliciei a ouvir esse autêntico concerto de jazz consubstanciado no swing das vibrações do ar, que vindas do choupo me entravam pelo quarto dentro e se espraiavam por cima da cama como um suave véu de seda macia, que me adormecia na convicção da transcendência.


2.

Quando saí de casa para ir almoçar, tive oportunidade de falar com algumas pessoas, sendo que a primeira foi uma engenheira florestal da Câmara Municipal de Oeiras, assim se identificou, que tinha sido alertada por um munícipe e estava a procurar averiguar de quem partira a ideia daquela barbárie.
Pouco tempo passado, disse-me, sem o garantir, que a acção parecia ter partido da própria Câmara, por razão de um qualquer projecto de acesso pedonal com rampa para deficientes, a construir naquele mesmo local.

É de louvar a preocupação com a melhoria das acessibilidades, mas quem conhece o local não acredita de modo algum na impossibilidade de desenhar uma solução capaz de poupar a vida a tal árvore, cujas características a tornavam indubitavelmente Património Natural do Concelho.

Uma outra senhora com que falei referiu-me que morava ali há cerca de 30 anos e lembrava-se de sempre ter visto ali a árvore.
Um senhor disse-me da dificuldade de uma mãe ou avô, não recordo bem, que passava, explicar à criancinha com quem ia e que a questionara, o que estava a acontecer e porque razão aqueles homens estavam a fazer aquilo à árvore.
Mais duas ou três pessoas com quem também falei mostraram-se escandalizadas com o acontecido.
O léxico utilizado pelas pessoas contemplava, em regra: crime, barbaridade, selvajaria, hediondo, etc.
O sentimento geral dos munícipes pareceu-me de revolta e indignação.

Para dar uma ideia da dimensão da citada árvore refiro que moro num 2.º andar e a minha varanda ficava abaixo do meio da copa.
Tanto quanto recordo, e tenho ainda documentado com 2 fotografias, a árvore atingia no seu ponto mais alto quase o 5.º andar do meu prédio.
Refiro ainda que o ponto de implantação da árvore não era ao nível do prédio, mas mais abaixo, cerca de uns 2,5 m., pois daquele lado existe um pequeno talude.
Isto tudo somado dava ao choupo uma altura estimada de cerca de 15 a 20 m.


3.

Onde estava um choupo, que nos dava qualidade de vida, agora vamos ter ferro e cimento...

Onde estava um choupo cuja copa nos dava privacidade, agora temos as janelas dos vizinhos...

Onde estava um choupo que era uma barreira natural contra o vento agora vamos ter a ventania...

Onde estava um choupo que era um 'planeta' carregado de vida vegetal e animal, numa miríade de microorganismos e de pequenos seres vivos que nele tinham o seu habitat, o seu ecossistema, ou parte dele, e que com a árvore interagiam num processo vital de simbioses e cadeias alimentares multifacetadas e riquíssimas, agora vamos ter...


4.

Enquanto escrevo isto, sentado frente ao computador, no mesmo sítio de sempre, olho para a direita através da janela e sinto um aperto na garganta. Há algo que me estrangula e falta-me o ar!

sexta-feira, outubro 01, 2004

PATRIMÓNIO - curso livre em Oeiras


A Câmara Municipal de Oeiras organiza o curso livre:

PATRIMÓNIO(S), Do Global ao Local

onde - Auditório da Biblioteca Municipal de Oeiras, Urb. do Moinho das Antas.
quando - 7 de Outubro a 4 de Dezembro.

mais informações - CM Oeiras, DASC/DCT/Sector de Acção Cultural, Tel. 21 440 85 52/87, Fax. 21 440 48 33, e-mail: susana.pereira@cm-oeiras.pt

terça-feira, setembro 21, 2004

Ciclo Internacional de JAZZ


JAZZ em Oeiras aplaudo mesmo saber sem ver vou se.

22 a 25 de Setembro 2004.

No Auditório Municipal Eunice Muñoz.

- Século do Jazz.
- Trio Filipe Melo.
- Sud - Sylvain Luc Trio.
- Ivan Paduart Trio.

jazzétó :)

justificação


Quando criei este blog o meu objectivo inicial foi dispor de um lugar onde pudesse deixar registadas as minhas memórias de Oeiras.
E assim foi acontecendo durante algum tempo.

Entretanto, um acontecimento recente introduziu uma nova linha de orientação a este projecto.
Refiro-me à criação do Fórum OeirasReminiscente < http://br.groups.yahoo.com/group/OeirasReminiscente/ >.

Sendo que apenas disponho, por enquanto, deste blog para deixar informações e elementos diversos que complementem a actividade do Fórum, o propósito inicial sofre uma ligeira alteração.
Não pretendo abdicar do projecto original (memórias de Oeiras), mas sim incrementá-lo, utilizando o blog para as duas actividades: memórias e informações.

Desta forma, irão aparecendo textos com as minhas estórias, entremeados com informações as mais diversificadas.

sábado, setembro 11, 2004

Força Perpétua!


Quando pensamos em património, ocorrem-nos imagens de museus húmidos e fedorentos, habitados por almas penadas; de velhos edifícios, às vezes a cairem de podres; de ruínas de tempos antigos; de igrejas soturnas; de palácios solitários; de fortes cinzentões; de castelos tristonhos; de estações arqueológicas... em suma, de pedras, calhaus e coisas que tais.
Esquecemos sempre o PATRIMÓNIO HUMANO, as pessoas! O que seria daquele património feito de matéria inanimada se não existissem as pessoas?

Reside em Oeiras, tem 39 anos, chama-se Perpétua Vaza, é atleta paralímpica na modalidade de natação, e vai representar Portugal em Atenas, Grécia. Sim, essa Grécia com a qual temos umas contas a ajustar...
Vai representar Portugal, mas também Oeiras, pois é uma atleta cá do nosso burgo.
Pessoas assim também são Património. Colocam a nossa terra no mapa. Em muitos mapas. Por isso, merecem todo o nosso apoio e carinho.
Para a Perpétua, o nosso apoio na sua luta e os nossos votos de uma grande vitória. Vitória que já começou, no facto de lá estar presente.

FORÇA PERPÉTUA!

terça-feira, setembro 07, 2004

OeirasReminiscente - Património Histórico-cultural de Oeiras


Criei há pouco tempo um Forum — OeirasReminiscente — cujo objectivo se centra no Património Histórico-cultural de Oeiras.

Transcrevo a apresentação, que se encontra na página de abertura do Forum:
"Este lugar é um convite.
Um convite à troca de ideias, à reflexão, à divulgação de eventos, à partilha de conhecimentos e à entreajuda, com o objectivo de não deixar cair no esquecimento aquilo que os oeirenses construíram, no sonho de que durasse eternamente: o seu Património Histórico e Cultural.
A memória pode ser curta. Compete-nos contribuir para que se prolongue o mais possível, para que os nossos descendentes ou substitutos, os vindouros, tenham orgulho em herdar e viver nesta vila."

Trata-se de um Forum sem moderador, aberto à participação daqueles que se interessam por esta temática.
O funcionamento é muito simples: mailing list - qualquer membro participa enviando emails e todos recebem esses envios (mais pormenores podem ser conhecidos na página do Forum no endereço citado mais abaixo).
O Forum não tem quaisquer objectivos político-partidários nem pretende ser uma 'praça pública' para lançar ataques pessoais ou ideológicos, para 'lavar roupa suja' ou para 'peixeiradas'... Existem locais e meios próprios para isso.
Pretende, muito modestamente, ser apenas um espaço, isento q.b., de encontro de pessoas e ideias. Um espaço aberto à partilha de memórias, de estórias e de histórias, quiçá também de reflexão, de divulgação de eventos, enfim, um espaço para si, onde se sinta livre para fazer o que quiser e como bem entender.
O meu objectivo em criar este Forum foi proporcionar um espaço acessível e rápido, que seja um canal de comunicação entre todos aqueles que se interessam pelo Património Histórico e Cultural do Concelho de Oeiras ou que, não tendo nenhum interesse particular no assunto, disponham (e estejam dispostos) a contribuir com o seu saber e experiências para a defesa deste património.
Mesmo que não habite em Oeiras, talvez Você tenha passado por cá num qualquer dia, talvez tenha feito aqui a tropa ou namoriscado alguma catraia :) , talvez tenha uma história engraçada para contar, talvez tenha tirado uma fotografia, ... partilhe isso connosco!
Esperamos por si. Todos teremos a ganhar.

A página de abertura encontra-se em
http://br.groups.yahoo.com/group/OeirasReminiscente/

Para subscrever envie um email para
OeirasReminiscente-subscribe@yahoogrupos.com.br

sexta-feira, agosto 13, 2004

Luis da vacaria


Não tenho nenhuma imagem na memória, dele pessoa nova. Sê-lo-ia certamente naquele tempo.
Mas a memória é como um rio heraclítico a fluir intemporal. A água que vemos agora passar parece a mesma de há pouco. Mesmo que entretanto tenham decorrido mil anos. Além de que, quando se é crianças, uma pessoa de, digamos, 40 anos, é velha, um 'cota' como se diz hoje. É necessário que o tempo faça desmaiar as frágeis folhas da vida, na luxúria outonal duma dialéctica sazonal, na aparentemente triste continuidade, para um dia percebermos, porque chegámos nós a essa idade, que velhos são os trapos.
E, assim, recordo-o velho, olhinhos vivos e brilhantes, um pouco ossudo e alquebrado, mas de voz espessa e possante a gritar o seu pregão. Se não avisava a chegada com a voz do corpo avisava com a voz da buzina da carroça, o que vai dar no mesmo. Fonc, fonc. Sentado na chiante carroça, puxada por uma mula que já vira melhores dias, debruçado sobre as rédeas, chibata na mão, num troc-troc rítmico, percorria o bairro, perseguido pela miudagem saltitante, ou com uma guarda-de-honra de bicicletas, parando nas ruas e pracetas, onde as mães e as avós acorriam a comprar o leite, os iogurtes, o pão, os ovos, que todos os dias ele religiosamente fornecia. E que, aqui para nós, eram do melhor e que bem que sabiam! Aquele pãozinho fresquinho logo pela manhã, espessamente barrado com boa manteiga, a acompanhar o café com leite, era uma oferenda divina que abria o apetite para o dia todo! Abria o apetite para a Vida!
Chamavamos-lhe sr. Luís da vacaria. 'Luís' de seu nome próprio e 'da vacaria' por ser proprietário de uma dita que existia nas imediações do bairro, próximo da Estrada Militar, actual Estrada da Medrosa.
O velho edifício, atrás do qual se situava a vacaria, ainda se conserva no local, hoje desabitado e de portas e janelas entaipadas a tijolo, sorrindo placidamente dos rumores de assombração fantasmagórica, que faziam passar ao largo a criançada, ali na ampla curva próximo do cruzamento de aceso aos Lombos, fazendo companhia ao pequeno forte de S. Gonçalo que fica também mais ou menos por trás.
Mas é do sr. Luís que quero falar.
Tinha fama de mulherengo. Diziam as más-línguas que na zona não havia empregadita ou criadita que escapasse ao seu faro apurado e ao catrapiscar do seu olho maroto, apesar da aliança doirada que trazia no dedo. Fama... tinha. Agora, se alguma vez teve o proveito...
Também, as mesmas línguas viperinas diziam em surdina, estas coisas não se dizem em voz alta, que ele aguava o leite. É caso para perguntar: se tinham, assim, tanta certeza, porque é que lho continuavam a comprar?
Nisto das más-línguas, nunca se sabe se falam por conhecimento de causa, se por despeito ou dor de cotovelo. Quem sabe, talvez quisessem apenas rivalizar com a mula que puxava a carroça do sr. Luís?
Antes da proibição de venda directa de leite, ele transportava na carroça as vasilhas metálicas, que atestava com o leite que tirava das suas vacas, vasilhas das quais retirava a quantidade que o cliente pretendia. Mas a proibição levou-o a mudar e a ter que se abastecer na UCAL, a passar a vender o leite empacotado. Uma consequência desta mudança foi ter passado também a vender iogurtes, que comprava à mesma empresa.
Como na vacaria também tinha porcos, além das vacas que nomeavam o local, e das galinhas, e sei lá que mais, ele ia frequentemente, com a carroça puxada pela tal mula que já vira melhores dias, pela Estrada Militar afora até ao quartel do RAC, buscar a 'lavagem' para dar de comer aos ditos. Para quem não sabe o que tal coisa é: a 'lavagem' é o resíduo que sobra das cozinhas e refeitórios. Cascas de batata, restos de legumes, restos de fruta, restos de comida, os porcos são omnívoros e não são esquisitos.
Esse percurso ao longo da estrada era uma oportunidade única para a miudagem andar de carroça. Pediam-lhe autorização, que ele sempre dava, e sentavam-se todos na parte de trás com as pernas de fora a baloiçar, numa gritaria eufórica que só adormecia depois do regresso ao bairro, quando era dada a ordem para saltar para o chão. Experiências campesinas numa vila com sonhos urbanos.
Eu só o costumava ver nessas ocasiões em que ele passava a pente fino o bairro, na sua venda ambulante. Não me recordo de alguma vez o ter visto noutro lugar que não fosse o acento da carroça.
Vi-o, sim, há poucos anos, abandonada toda a actividade por força da concorrência inumana dos supermercados, em particular do Pingo Doce nas Galerias Alto da Barra (que nos habituámos a referir como as 'Galdérias', excuso-me de explicar porquê...). Encontrei-o no Centro de Dia dos idosos da Medrosa. Aí passou os seus últimos anos na companhia de amigos, a maioria deles seus antigos clientes, no carinho e ternura lenta das memórias que não esquecem.

Da carroça e da mula, nem vestígios.

sábado, julho 24, 2004

a Torre


A Torre não é uma praia, é uma paixão.
Daquelas paixões para a vida toda, que se colam à pele como o cheiro agridoce de mil langonhas do corpo duma puta, que se entranha nos poros, que entra na corrente sanguínea, que é levada ao cérebro pelo bater do coração, e que preenche todos os interstícios do ser, indelevelmente.
Tinha uma qualidade ímpar. Era à medida do meu corpo e do meu espírito. Tinha uma geometria variável, que dependia do meu humor.
Às vezes era imensa como um deserto, extensa e infinita. Quase não descobria nela vivalma, excepto um ou outro camelo suburbano em busca do oásis cuja localização só eu conhecia. Outras vezes, minúscula e opressiva como uma esquadra de polícia de bairro. O ar parecia rarear e paredes invisíveis avançar poderosamente sem que as pudesse evitar de me confinarem ao nada que era eu.
Por ser uma enseada abrigada, era calma e segura como uma piscina. Uma piscina com ondas e marés, mas uma piscina, mesmo assim. As correntes, perigosas, passavam ao largo, para lá do bico do forte. E de qualquer das formas nós sabíamos que em caso de arrastamento bastava não lutar contra a corrente e deixar ir. O destino era a praia de Carcavelos. Quantas vezes corremos até esta para ir buscar alguém que tinha sido arrastado, por exemplo num colchão de praia, e que, como previsto, tinha contornado o forte e 'aportado' no extenso areal de Carcavelos. Era matemático.
O incontornável banheiro, sempre descalço, de t-shirt branca e calções azuis, que geria a concessão era o sr. António. Tinhamos simpatia por ele.
Só não gostávamos era dos binóculos gigantescos que usava, não só para a prevenção de acidentes com banhistas, mas também para vigiar o comportamento ético e moral na praia 'dele', como mandavam os bons-costumes...
Se algum casal de namorados se afastava para o fundo da praia ou para junto da muralha do forte, e se deitava na areia e aproveitava a distância, convencido duma privacidade inexistente, para um namorico um pouco mais fogoso, lá surgia ao pé deles, como um raio súbito, o banheiro a avisá-los que ali não podiam fazer aquelas poucas-vergonhas qu'ele bem os tinha visto pelos binóculos a beijarem-se a fazerem porcarias e se não param corro-vos da praia e nunca entram cá mais!
Além da merda dos binóculos, o sr. António tinha também um megafone com o qual, do muro dos balneários, lançava avisos aos banhistas ou para toda a praia informando que alguma criança tinha sido encontrada. O que nós gozavamos quando ouviamos ressoar pelo ar a sua voz megafonizada: "Achou-se uma criança perdida..." Na nossa lógica achavamos que se a criança tinha sido 'achada', então não estava 'perdida'! E numa praia daquela dimensão, perder uma criança era obra de monta.
A última vez que o vi, na Figueirinha, há 2 ou 3 anos, lia-se-lhe nos olhos e no rosto de rugas calcinadas pelos anos salobros a saudade do mar e da praia, impossíveis devido a uma perna amputada.
A Torre era, sobretudo, a nossa praia.
Conhecia-a como a palma da minha mão. Talvez até melhor.
Ali fiz os meus primeiros amigos de Oeiras. Todos os Verões alugávamos uma barraca, com direito a 2 banquinhos de madeira. Provavelmente os primeiros rapazes que conheci ali foram o Toni, o Mané e o Carlitos. Presumo isto pela simples razão de eles serem filhos de faroleiros do forte de S. Julião da Barra e morarem ali mesmo ao pé, nas casas dos faroleiros à entrada da praia. Naturalmente que eles passavam o dia todo na praia.
Depois seguiram-se todos os outros. Na maioria rapaziada que morava nos bairros velho e novo. Rapidamente conheci muita gente.
Tinhamos um grupo imenso de moços e moças. Brincávamos; nadávamos; pedíamos o côco emprestado ao Rui pescador para remarmos ou darmos mergulhos fora-de-pé; fazíamos concursos de mergulho a ver quem conseguia mergulhar na menor altura de água possível; entrávamos todos para a água, despiamos os calções e saíamos da água com eles trocados entre nós, o que era motivo de gargalhadas das nossas mães e pais; fazíamos corridas uns contra os outros a ver quem chegava primeiro ao Motel (não havia passeio-marítimo, porto de abrigo ou piscina oceânica; corríamos de pés nús sobre as rochas aguçadas e não era raro alguém acabar com um pé escortanhado; o regresso era feito pela marginal, para aliviar os 'presuntinhos'); jogávamos à 'verdade ou consequência' à sombra dum toldo, foi assim que uma vez tive que dar um beijo no nariz da Paula 'Pencas'...; quando veraneávamos por ali, abandonávamos as toalhas sem medo de ficar sem elas; comíamos umas enormes e magníficas Bolas-de-Berlim, vendidas numa barraquinha ao pé das escadas ou compradas à vendedora ambulante que palmilhava a praia agarrada à sua caixa de madeira; comíamos gelados comprados ao vendedor ambulante que gritava "é n'anilha ó chocolate", ou aqueles saborosos semi-frios que se vendiam no restaurante da praia; levávamos sandes para a praia para não perdermos um segundo que fosse por ter de ir a casa almoçar; dávamos beijinhos às escondidas, apalpões nem pensar; espojavamo-nos ao sol como lagartos, a ver quem conseguia o bronzeado mais escuro (era uma questão de honra, vá-se lá saber porquê); à sombra da barraca, ouviamos música num gira-discos portátil a pilhas que tocava os nossos discos preferidos de 45 rotações, que invariavelmente provocavam nos nossos pais comentários do tipo 'isso é só barulho'; e etc.

Na Torre a vida não tinha limite nem fim. Na Torre a vida era um vôo infinito.

domingo, julho 11, 2004

Agar, a escrava

Foi a primeira vez que fui apalpado de alto a baixo por um homem. Primeira e última, é bom que se saiba.
Seriam talvez umas dez da noite. Lá fora estava escuro como breu pois os candeeiros da rua eram poucos e iluminavam mal. A própria luz no interior do snack Agar criava uma cortina que acentuava a escuridão exterior.
Estava pouca gente no café. Apenas homens, era uma hora imprópria para as senhoras irem ao café, e rapazes, eu era o único. A maioria da fauna presente morava ali no quarteirão ou no bairro velho. O bairro novo, ou estava a ser construído, ou ainda não estava habitado. Fui habitá-lo cerca de um ano após a construção. Ora quando este episódio aconteceu, tenho a certeza, eu morava ainda no 43, lá ao lado do Agar.
O cliente que mais caminhara para ali chegar era o mestre Rocha, pescador, algarvio dos quatro costados que morava numa estranha casa de pedra na praia do Moinho, castigada pelas vagas das invernias tormentosas, ao lado do forte de São Julião da Barra. Era um homem ímpar. Lembro o fascínio que me provocaram as suas habilidosas mãos uma vez em que o vi na praia da Torre a construir um côco (pequeno botezinho de fundo chato, geralmente de pinho e tabopan). As suas mãos metamorfoseavam o pinho como se este fosse barro mole, como se uma antiga e velha cumplicidade ligasse carne e madeira.
Recordo que ele estava sentado ao balcão, de copo na mão, em amena cavaqueira com a rapaziada. Os restantes espalhavam-se em pé pela sala, uns aqui, outros ali ou acolá. Eu, tenho ideia que estava sentado. Todos bebiam e conversavam animadamente.
Contavam como lhes tinha corrido o dia de trabalho se referiam o chefe ou o patrão olhavam primeiro em redor e para a porta e depois uns para os outros e baixavam a voz até um nível quase inaudível, falavam do clima do tempo que chove ou não e se está frio como cornos, mais a merda do funeral que é no domingo daquele sacana que morreu com um ataque cardíaco e deixa viúva e três filhos por criar e reforma ou pensão agarra-te ao pau puta-que-pariu, falavam das vizinhas como aquela é uma boazuda ca-ganda-par-de-mamas-e-ganda-cu e até está separada do marido pelo que, e sempre havia alguém que jurava que já lá tinha ido e que ela tinha uma rata que parecia o túnel do rossio aldrabão foste mas foi o caralho, e olhar em redor aquele fedorento casado com aquela magricelas-tábua-de-engomar-que-nas-mamas-sai-ao-pai muita feia que anda sempre de fato cinzento ós quadrados e que tem pinta de bufo esse cabrão é da legião e um par de murros naquelas trombas ainda é pouco qu'o gajo é que lixou o do terceiro direito, e o filho do outro que tinha regressado a semana passada da guerra felizmente inteiro com os dois bracinhos e as duas perninhas e a piça e os tomates que é o mais importante e que contava a foda de arrebenta-peida que tinha dado no cu da preta na borda da picada em troca duma moeda de cinco coroas, e preciso de vinte continhos onde é que os vou arranjar conheço um gajo que tos empresta mas só através de mim e o gajo come-te trinta por cento e se não pagares no dia que ele diz manda os rapazes dele terem contigo e já sabes como é que é tens muita sorte se ficares vivo queres a massa vai ter comigo amanhã,
Eu, apenas ouvia, ria com as larachas, sempre havia alguém com uma piada nova, e aprendia.
Os três irmãos donos do snack-bar, creio que um era o Miranda e o outro Luís, do terceiro não me lembro o nome, Silva talvez, revesavam-se à vez no serviço. Mas muitas vezes estavam lá todos os três, sobretudo à noite.
Lembrei-me agora, o pai deles era carpinteiro e tinha um jeito fantástico para a profissão. Pelo menos a julgar por uma estante que nos fez e que durou imensos anos (ainda existe; após muitas vicissitudes que incluem ter sido cortada na horizontal e pintada de branco cá pelo je, mantém-se orgulhosa no sotão da casa dos meus pais).
Subitamente, um 'creme-nívea' pára bruscamente à porta e dele saem vários polícias que entram intempestivamente pelo estabelecimento adentro. Uma voz poderosa e autoritária impõe o silêncio. Desnecessariamente, pois perante aquele folclore fascizóide já há muito todos haviam emudecido (eu fui o primeiro, até porque estava calado). A memória é difusa mas tenho ideia que havia também alguns agentes à civil, talvez 'judite' ou 'pevide'. O último polícia a entrar volta-se e fecha a porta atrás de si. Ninguém entra nem sai. A mesma voz ordena que todos tirem para fora os BIs, se voltem para as paredes, mãos no ar apoiadas, braços e pernas afastados, e bico calado pouco barulho aí ao fundo.
E começa a sessão de apalpanço. Os agentes acocoram atrás de nós e de baixo para cima vai de apalpar. Tornozelos, pernas, coxas, por dentro e por fora, tronco, sovacos, braços. Temo que o polícia me descubra no bolso o maço de tabaco e a caixa de fósforos e me denuncie perante o meu pai, o qual ainda ignora que estou a resvalar para uma vida de 'droga'. Ocorre-me: tanto paneleiro por aí que adorava substituir-me nesta hora!
Enfim, terminada a apalpação, a polícia faz o balanço. Não encontraram nada. Nem armas de fogo ilegais, nem panfletos comunistas anti-patrióticos e subversivos, nem coisa nenhuma. Excepção feita para a navalha do mestre Rocha. Uma arma perigosíssima e subversíva, de acordo com eles! Os agentes ensurdecem perante as vozes que explicam que o homem é pescador e que a navalha é uma ferramenta de trabalho, para consertar redes, cortar fio de pesca, amanhar peixe... 'Dura lex sed lex', a lâmina tem mais de dez centímetros, medidos na palma da manápula do agente, e se o homem é pobre e não tem dinheiro para comprar outra, isso não é problema deles. A navalha desliza para o bolso dum agente.
Fica-me a impressão dela ter apenas um carácter justificativo e argumentativo de 'missão cumprida com êxito'... Fica-me uma sensação a que os brasileiros tão inspiradamente chamam sacanagem!
Saem todos após um delicado e educado, anacrónico, como mandam as neps, 'boa noite meus senhores'. Um boa noite que soa a portem bem senão levam um tautau.

Acabou a rusga e ninguém foi preso. A verdade verdadinha é que estas merdas eram só para chatear...

ai Portugal

Que relação poderá existir entre Oeiras e a Parede, sita que está esta no Concelho de Cascais?
Que a Parede foi em tempos um pequeno lugar atravessado pela estrada Lisboa-Cascais, já o sabemos. Que essa estrada passava por Oeiras, também o sabemos. Que, por estrada, seria difícil, senão impossível, ir de Oeiras a Cascais sem passar na Parede, parece-me uma dedução simples e quasi óbvia. Isto é uma relação, mas não parece muito relevante, assim como também não o parece ser o facto de tanto Oeiras como a Parede terem sido praias-de-banhos com alguma importância nos sécs. XIX-XX. Afinal, toda a Linha, de Algés a Cascais, o foi.
Rio, mar, praia, pesca, hótéis, esplanadas, casinos, são um fio condutor a ligar Algés a Cascais, a unir os dois concelhos, num movimento humano, social, histórico, que a Linha férrea consubstanciaria e a estrada Marginal consolidaria.
Quando vim de Alcácer do Sal em 1969/70 eu nada sabia sobre isto. Mal sabia o que eram concelhos e freguesias e que Oeiras e Cascais eram dois concelhos irmanados por uma longa história. Desconhecia ainda que as estações da CP da então chamada Linha do Estoril, correspondiam mais ou menos a antigos lugares e aldeias ribeirinhas dos citados concelhos.
A relação que para mim existia entre Oeiras e a Parede, era apenas o facto de que a minha vida estava repartida entre ambos os lugares. Em Oeiras, eu residia. Dormia e comia aqui. E depois do jantar via um pouco de televisão, que só transmitia umas poucas horas à noite. Na Parede, eu estudava, brincava, convivia, fazia amigos. Mas como, se o Liceu de Oeiras estava ali tão perto, apenas a cem metros da minha casa?
A explicação é simples e prende-se com o sistema de ensino. Em Alcácer, eu frequentara um colégio particular. Não existia ainda escola secundária na vila, como hoje acontece, e era o Colégio Dr. José Gentil que assegurava o ensino liceal, até ao 5º ano. Os exames, íamos fazê-los ao Liceu de Setúbal, o que era uma aventura. Ora quando vim, eu tinha acabado o 3º ano com aproveitamento e tinha passado para o 4º ano. A minha matrícula no Liceu de Oeiras, ou em qualquer outro, não era permitida. O sistema só permitia o trânsito do particular para o público em anos de início de ciclo, ou seja, 1º ano, 3º ano e 6º ano. Eu podia matricular-me, mas tinha que o fazer no 3º ano, o que implicava atrasar um ano os estudos (o que acabou por acontecer na mesma, mais tarde, mas isso é outra estória). Para me matricular no 4º ano só existia uma possibilidade, fazê-lo num colégio particular.
Neste plano a Linha não oferecia muitas alternativas. Alternativas que não fossem muito onerosas, claro. Que me recorde existiam: Os Salesianos, colégio de religiosos, no Estoril; o Portugal, colégio exclusivamente masculino, na Parede; os Maristas, também de religiosos, em Carcavelos; o St. Julian's, chamado 'dos ingleses', também em Carcavelos; o Bafureira, apenas feminino, na Parede; provavelmente existiam mais alguns, mas tão dispendiosos ou com acesso apenas mediante 'cunha', que nem me lembro deles.
A escolha recaiu sobre o Portugal. Era muito acessível, mesmo ao pé da estação, e eu tinha também estação à porta de casa, bastava-me o passe de estudante Oeiras-Cascais
A propósito, uma curiosidade: ainda tenho o passe de estudante Oeiras-Cascais com o último bilhete mensal, 2.ª classe, que comprei. Em Junho de 1973 o bilhete custava 47$50, na moeda actual 0.24€ ! Hoje parece uma ninharia mas na altura era muito dinheiro.
O Colégio Portugal, dizia eu, não era dos mais caros, eu conseguia vir almoçar a casa, enfim, lá me matricularam no Portugal. Oeiras e a Parede 'linkavam-se' por meu intermédio, diríamos em gíria Internet.
A maior parte do dia passava-o na Parede. Por isso tanto tempo demorei até ter amigos em Oeiras. Durante o tempo de aulas, como já referi, só cá estava para dormir e comer. No resto do ano, férias incluidas, passava a maior parte do tempo metido em casa.
Quando puder hei-de falar do Colégio Portugal, que tinha uma característica que o tornava especial. Era uma das poucas alternativas ao ensino público e, por isso, muito procurado por aqueles que não podiam frequentar este. Nomeadamente alunos que tinham sido expulsos dos Liceus de Cascais e Oeiras, habitualmente devido a mau comportamento. Eram os 'meninos maus das famílias boas'... Conheci toda a sorte de 'bandidos'. Deixo isso para outra altura.
Foi esta vida dupla que me levou tanto tempo a assumir-me um filho de Oeiras. Dois acontecimentos concorreram para que tal acontecesse. O ter começado a frequentar a praia da Torre em 1971 e o meu ingresso no Liceu de Oeiras em 1973. A partir daqui comecei a ter imensos amigos e amigas em Oeiras e comecei a frequentar a 'minha' terra com grande intensidade.

Oeiras nascia para mim. Eu retribuia-lhe.

sábado, julho 03, 2004

os mortos

Ao jeito de intermezzo.
Ao longo destes 35 anos muitos são aqueles que nunca lerão as minhas memórias de Oeiras. Todos fazem parte delas, de uma forma ou de outra, por boas ou por más razões, ou por razões assim-assim. Todos pertencem a essa memória remota ou próxima. Vários conheci como amigos do meu irmão. Pertenciam à geração com menos meia dúzia de anos que eu. Outros, menos, pertenciam à minha geração. Acompanhei muitos em festas de 'garagem', que aconteciam em sótãos porque viviamos em prédios. Também alguns acompanhei a pubs e a discotecas, ou em mergulhos 'tudo nu' à meia-noite na praia da Torre.
Da maioria deles eu nem sabia o nome. E nisso era correspondido. Para eles eu era o 'irmão do Júlio', o que era mais que suficiente para me identificarem. É tão bom não necessitar de B.I.!
Todos eles estiveram aqui, ali ou acolá, num qualquer lugar, neste, naquele ou num qualquer dia outro. Todos riram, todos ficaram sérios, todos choraram, todos morreram. Fosse por acidente, suicídio ou doença, álcool ou droga, ou a explosiva mistura de tudo isso, a temível gadanha abateu-se sobre eles e cerceou-lhes o fio da vida. Uns mais cedo, ainda adolescentes, outros mais tarde, jovens adultos. Todos tinham o futuro à espera deles. Mas a única coisa que encontraram foi a frieza gelada do presente permanentemente feito passado, na iniludível transmutação em pó.
Para que saibais, quero deixar aqui registados alguns nomes que ainda lembro, deles e delas, sabendo que estou a esquecer vários outros (a ordem é meramente alfabética): Calita, Fufu, Guida, Ilídio, Quim, Litri, Marçal, Nuno, Cigano, Rafael, Rui, Teresa e Toninho.

Mors ultima ratio.

sábado, junho 19, 2004

o zé dos óculos

Era assim que nomeavamos a taberna que hoje é o restaurante Mira-Ponte. Era assim apelidada porque o dono se chamava José e usava óculos (esta aparentemente inútil explicação é para os menos familiarizados com a alkunya-onomastikon-genesis in taberna). Na verdade acho que nunca soube o nome dele. Tratava-o, como toda a gente, por 'Sô Zé'. José, acho que era de certeza. Ah, e tinha um táxi por conta dele.
Lembro bem o ambiente. O intenso, quase nauseante, cheiro a vinho, a que o juramento a pés-juntos negava o martelar aquoso, e o odor a madeira velha, húmida, a lembrar vagina de peixeira idosa. Odor que me evocava imagens dum cais lisboeta à beira-rio, de madeira escura e pútrida, noctívago sem noite, à espera do tempo. Os líquidos círculos púrpura sobre o balcão, mesclando-se uns nos outros, fundindo-se em movimentos surdos, como manchas de tinta numa tela de pop-art enófila, eram sinais de uma semiótica condensada na tradição masculina. O vinho corria a rodos, encopado em copos de três, tragado avidamente numa escatologia firmada, encerrada, com estalos da língua, e um 'oh Zé, dá aí mais um qué pró caminho'. O som estrebuchado e o cheiro de um ocasional traque, ressoava por vezes e odorava o éter, provisoriamente, numa alegoria demiúrgica da criação. As minis, os tremoços, as azeitonas e as alcagoitas (amendoins), os queijinhos secos, as carcaças, as sandes de presunto, o habitual impunha-se para não destoar. Como o espaço era exíguo, os homens ficavam de pé, arrimados ao balcão como andorinhas poisadas num fio de telefone. E alguns eram-no. Andorinhas de vôo planado em busca do alento para a migração do dia seguinte que sempre se seguia, de volta ao mesmo poiso. Estranhas andorinhas, de migração tão curta.
Lembro também o edifício. A parte que hoje é curva e acompanha o passeio, na época era aberta e ao ar livre, com um pequeno muro em pedra e era calcetada, e aí existiam duas ou três mesas metálicas verdes com cadeiras também metálicas. Claro que em cima do empedrado aquilo baloiçava por todo o lado. No Verão à tardinha, era um óptimo sítio para estar, até porque não existia o movimento automóvel que existe hoje. Era sossegado. A entrada propriamente dita era feita por duas portas situadas na parede vertical de que ainda existe a empena, visível no edifício e nos vestígios residuais duma espessa coluna no interior. O espaço era estreito, a toda a largura do edifício actual, mas com paredes interiores que depois foram demolidas e lhe deram a amplitude actual. O balcão tinha mais ou menos ao meio uma portinhola e por aí se seguia, por um comprido corredor, para as salas interiores e para a cozinha. Era nessas salas que eram servidas as refeições. Tanto quanto recordo havia uma sala do lado esquerdo, seguida da cozinha, e uma sala mais comprida do lado direito, equivalente ao comprimento das anteriores. Esta última tinha mesas de madeira forradas a plástico florido e em torno, encostadas às paredes, algumas pipas de vinho. O sentar ali e respirar o delicioso aroma que vinha da cozinha era uma tentação para o espírito e para o corpo. O apetite crescia e preenchia todos os cantos do ser. A tentação era forte e tornava-se incontornável. Tinha que ser satisfeita.
A cozinheira era a mulher do Zé, e que cozinheira! Íamos lá muitas vezes, ao domingo, comer um belo dum frango assado acompanhado com batatas fritas e salada. Não havia em Oeiras e arredores nada que se lhe comparasse. Desconheço a origem dos frangos. Não sei se eram do campo, de aviário, do supermercado, da vizinha, da Lua, ou doutro lugar qualquer. Sei que eram bons. Excelentemente temperados e assados. No carvão. Tinham aquele sabor carbónico que só a brasa e o fumo conseguem transmitir aos alimentos. Eram uns belos repastos, sempre ansiosamente aguardados.
Há ainda daquele tempo um curioso pormenor que recordo pela invulgaridade que representava para mim, pois nunca tinha visto nada assim. Quando se entrava, na parede do lado esquerdo existia uma jukebox pendurada. Aparentemente nada de estranho. Não há nada de errado em existir uma máquina de discos numa taberna. O que me fascinava era o modelo. Não era uma das vulgares máquinas que apoiam no chão, mas uma máquina vertical, pendurada na parede. Eu interrogava-me se aquilo estaria bem fixo e não cairia. Que eu saiba, nunca caiu. Tanto quanto recordo, ouvir um disco custava cerca de 2$50. Dois escudos e cinquenta centavos. Eram as chamadas moedas de cinco coroas. Para a época não era uma quantia desprezável, pelo que raramente a máquina funcionava. Mesmo assim, de vez em quando alguém mais endinheirado ou perdulário, ou alguém já ébrio e que, por isso, já perdera o sentido ao dinheiro, punha uma moeda na máquina e ouvia-se soltar-se do interior desta, após um complicado e fascinante processo mecânico de trelac-prelac-troc, a voz do Gianni Morandi, da Marisol, do Gabriel Cardoso, do Tony de Matos, do António Calvário, do Tom Jones, do Elvis Presley, do que a censura, na sua sapiência inquestionável (do ponto de vista deles), complacentemente autorizava que o povo ouvisse.
Anos mais tarde, já snack-bar-restaurante, foi cenário de encontro de estudantes cheios de sonhos de liberdade e justiça social e palco de confluências amorosas e cumplicidades as mais variadas. Mas isto são outras estórias.

Enfim, às vezes tenho saudade do zé dos óculos.